
Em busca de uma nova vida, na Itália, um jovem de 22 anos sai do Senegal, no continente africano, em uma viagem com a ajuda do tio. Ao desembarcar, porém, descobre que está a mais de 7 mil quilômetros de distância da sua terra natal. Ele foi enviado ao Equador sem saber e descobre ser vítima de tráfico humano. Fugindo dos criminosos, passa por Peru e Bolívia até chegar ao Brasil.
Bem que poderia ser um enredo ficcional, mas não é. Trata-se da história de Modou Awa Dieye, multiartista senegalês, inspiração para o filme “Malick”, no qual também é codiretor, junto com o cineasta Cassio Tolpolar. O longa está em pré-produção e começa a ser rodado no início de fevereiro, em Porto Alegre (RS).
“Só sinto felicidade de ver minha história virando filme. Isso para mim é uma conquista muito grande, porque jamais iria imaginar sair do meu país, que era minha zona de conforto, para ir a um outro lugar, onde ninguém me conhecia, passar por tudo isso e, de repente, estou fazendo um filme em um outro país, em uma outra língua. Então, para mim, é uma conquista muito grande”, celebra Dieye.
O percurso para que a realidade virasse ficção foi longo e iniciou em 2017. O diretor do filme, Cassio Tolpolar estava reescrevendo um outro roteiro de ficção e procurava um parceiro senegalês para a empreitada. “O nome de Modou chegou até a mim por outro senegalês, o Bamba. A primeira vez que conversei com Modou, pelo telefone, em vez de falar sobre o meu projeto, ele me contou sua história de vida, que achei triste, mas fantástica. Uma história de pura resiliência. Foi, então, que comecei a mudar o roteiro, que inclusive tinha outro título e sinopse. Estamos aqui hoje por causa desse encontro”, explica o cineasta.
A história de Modou se soma a tantas outras de refugiados que chegam ao Brasil todos os anos. Em 2024, só no Rio Grande do Sul, cidade onde ele vive atualmente, foi registrado o maior número de autorizações para migrantes e refugiados desde 2020, segundo dados da Polícia Federal. Foram 27 mil autorizações no ano passado, crescimento de 103,4% em comparação a 2020.
“Com o filme, estou na verdade buscando uma forma de cura, que é relembrar o que aconteceu na minha vida passada e de outros imigrantes que passaram por isso, mas que estavam sem voz ou com medo de contar. A minha expectativa é que os imigrantes que já passaram por isso, que já não estão mais aqui e os que ainda estão, se sintam como se alguém estivesse fazendo a justiça por eles. Pra mim, o filme é uma forma de luta”, afirma Modou Awa Dieye.
O Filme Malick
O filme “Malick” conta a história de um imigrante senegalês de 25 anos, que busca se adaptar e construir sua vida, em Porto Alegre (RS). Vítima de tráfico humano, ele é assombrado pelo seu passado. A promessa de um novo futuro é comprometida, quando ele acredita que o coiote que o trouxe ao país, reaparece. Malick enfrentará o dilema entre vingar-se do coiote, arriscando assim sua permanência no país, ou esquecer o passado e continuar com seu plano de estabilidade.
Primeiro longa-metragem de ficção da produtora audiovisual gaúcha Mamaliga Films, o filme já participou dos laboratórios de roteiro Varilux e Luzes da Cidade, dos mercados audiovisuais SP Cine Pitching e Cine Esquema Novo e das rodadas de negócios do FRAPA e Roteiros e Narrativas. Também fez parte do programa Accelerator do SEE Fest Film Festival em Los Angeles.
“Malick” tem direção de Cassio Tolpolar e codireção de Modou Awa Dieye; roteiro de Adry Silva, Cassio Tolpolar e Modou Awa Dieye; e produção-executiva de Ana Luísa Moura e Pam Hauber. O projeto foi realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022.