Juliette Binoche em ‘Entre Dois Mundos’ (Foto: Reprodução/ Divulgação/ Pandora Filmes)

O À La Carte, streaming de filmes pensado para quem ama cinema de verdade, preparou uma seleção especial para julho, reunindo romances atemporais, dramas políticos, erotismo cult e obras-primas do cinema europeu. Nesta quinta (3), chegam ao catálogo A História de O: Capítulo 2, a delicada produção espanhola Segredos do Coração e o premiadoO Medo Consome a Alma, marco de Rainer Werner Fassbinder. Entre os destaques, também entram o clássico hollywoodiano A Dama das Camélias, com Greta Garbo, e o provocador Effi Briest. Sorrisos de Uma Noite de Verão, de Ingmar Bergman, e Quero Dizer que Te Amo, com Antonio Banderas e Melanie Griffith, também chegam ao catálogo. Para quem gosta de histórias reais, Limonov: O Camaleão Russo, exibido no Festival de Cannes do ano passado, é uma aposta certeira. Outra grande estreia, recém saída dos cinemas, é o longa Entre Dois Mundos, estrelado por Juliette Binoche. E, para fechar o mês, no dia 31 entram no catálogo o irônico O Terceiro Tiro, única comédia da carreira de Alfred Hitchcock, e Trilha Sonora Para um Golpe de Estado, documentário indicado ao Oscar que mistura de jazz e geopolítica.

ESTREIA 03 DE JULHO

A História de O: Capítulo 2 (Histoire d’O: Chapitre 2)
França e Espanha, 1984, Drama, 1h48, 18 anos
Direção: Éric Rochat
Elenco: Sandra Wey; Rosa Valenty; Manuel de Blas
Sinopse: Em uma tentativa de acabar com a reputação de um poderoso rival, o industrial James Pembroke, seus inimigos contratam a sedutora dominatrix O para comprometer o empresário e toda a família dele.
Curiosidades: O roteiro é uma continuação do filme “História de O”, uma adaptação do romance erótico homônimo publicado em 1954 por Pauline Réage. Este filme foi adaptado para uma história em quadrinhos, “Histoire d’O N°2”, com roteiro de Éric Rochat e desenhos de Guido Crepax. O cineasta inglês Julian Temple, realizador de videoclipes de bandas e artistas famosos, como Duran Duran, David Bowie e Sade, foi originalmente escalado para dirigir este filme, mas foi substituído por Éric Rochat.

O Medo Consome a Alma (Angst essen Seele auf)
Alemanha Ocidental, 1974, Drama, Romance, 93 min, 16 anos
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Brigitte Mira, El Hedi ben Salem, Barbara Valentin
Sinopse: Uma viúva solitária conhece um trabalhador marroquino mais jovem em um bar. Para a surpresa de ambos, e para o choque da família e dos colegas dela, eles se apaixonam.
Curiosidades: Vencedor do Prêmio da Crítica Internacional no Festival de Cannes 1974. O filme possui grande influência de “Tudo Que o Céu Permite” (1955), clássico de Douglas Sirk disponível no À La Carte. Este filme foi rodado em apenas 14 dias para preencher o curto tempo ocioso entre dois filmes de Fassbinder: “Martha” (1974) e “Effi Briest” (1974). O personagem Ali se refere às dificuldades enfrentadas pelos imigrantes árabes “desde Munique” (cidade alemã onde a história se passa), em referência a um fato ocorrido dois anos antes, quando Munique sediou os Jogos Olímpicos de 1972 e o grupo terrorista Setembro Negro assassinou onze membros da equipe israelense. Fassbinder estava em um relacionamento com o ator principal El Hedi ben Salem na época das filmagens.

Segredos do Coração (Secretos Del Corazón)
Espanha, 1997, Drama, 1h45min, 14 anos
Direção: Montxo Armendáriz
Elenco: Carmelo Gómez; Charo López; Silvia Munt
Sinopse: Javi e seu amigo Carlos bisbilhotam uma casa velha no caminho de casa da escola. De acordo com seu irmão Juan, esta é uma casa mal-assombrada e pode-se ouvir as vozes dos mortos. Mais tarde, ele fica intrigado com um quarto que está sempre fechado (o quarto onde seu pai foi encontrado morto). Ele fica tão interessado nesses mistérios que começa a investigar todos os segredos dessas pessoas mortas e suas histórias.
Curiosidades: Indicado ao Oscar 1998 de Melhor Filme Estrangeiro, ano em que “Caráter” conquistou a estatueta dourada para a Holanda. Vencedor do prêmio Goya, o mais importante do cinema espanhol, em quatro categorias: Melhor Atriz Coadjuvante (Charo López), Melhor Ator Revelação (Andoni Erburu), Melhor Direção de Arte e Melhor Som. Em 1995, o diretor Montxo Armendáriz teve seu filme “Segredos da Coroa” na Seleção Oficial do Festival de Cannes, concorrendo À Palma de Ouro.

A Dama das Camélias (Camille)
EUA, 1936, Drama, Romance, 1h49min, 14 anos
Direção: George Cukor
Elenco: Greta Garbo, Robert Taylor e Lionel Barrymore
Sinopse: Uma cortesã parisiense deve escolher entre o jovem que a ama e o barão insensível que a deseja, mesmo quando sua própria saúde começa a piorar.
Curiosidades: Roteiro baseado no romance “La Dame aux Camélias”, de Alexandre Dumas Filho, publicado em 1848, e também na adaptação para o teatro feita pelo próprio escritor em 1852. Este era o filme favorito de Greta Garbo dentre todos os que ela atuou. A única lembrança de Hollywood que Greta Garbo guardou foi um par de luvas de pelica desenhadas por Adrian para este filme. De couro branco, elas eram bordadas com um padrão de folhas de hera que formava suas iniciais “GG” repetidamente. Greta Garbo usava chinelos por baixo de todos os seus vestidos elegantes para se sentir confortável e também para ser mais naturalista em sua atuação. A cena no início em que Marguerite (Greta Garbo) beija Armand (Robert Taylor) por todo o rosto foi ideia de Greta Garbo. Embora Garbo gostasse de George Cukor, o diretor tinha um comportamento no set que a irritava: ele tinha o hábito de sentar-se atrás da câmera durante as cenas e repetir as falas junto com os atores, às vezes também fazendo gestos com as mãos e o rosto.

ESTREIAS 10 DE JULHO

Effi Briest (Effi Briest)
Alemanha Ocidental, 1974, Drama, Romance Histórico, 140 min, 14 anos
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Hanna Schygulla, Wolfgang Schenck, Ulli Lommel
Sinopse: Effi, de 17 anos, casa-se com o Barão von Instetten e muda-se para uma cidade isolada. Solitária, envolve-se com o Major Crampas, o que traz consequências devastadoras.
Curiosidades: Roteiro adaptado do romance homônimo de 1898, escrito pelo alemão Theodor Fontane. Filme vencedor do Prêmio Interfilm no Festival de Berlim 1974. Neste filme, Hanna Schygulla já tinha 31 anos enquanto interpretava uma garota de apenas 17 anos. Rainer Werner Fassbinder insistiu para que o ator Kurt Raab raspasse uma parte da cabeça para uma cena importante, Raab atendeu ao pedido, mas o diretor desistiu completamente da ideia. A tradução literal do título completo do filme, não utilizado pelos distribuidores, é: “Fontane Effi Briest ou Muitos que têm uma noção do seu potencial e desejos, e que, no entanto, em suas cabeças aceitam o sistema de decisão e, assim, o consolidam e confirmam”.

Quero Dizer que te Amo (Two Much)
Espanha, 1995, Romance, Comédia, 1h58 min, 14 anos
Direção: Fernando Trueba
Elenco: Antonio Banderas; Melanie Griffith; Daryl Hannah
Sinopse: Um jovem galerista está apaixonado por duas irmãs ao mesmo tempo. Para resolver o problema, ele decide inventar seu próprio irmão gêmeo.
Curiosidades: Na época das filmagens, maio de 1995, a imprensa noticiou que Melanie Griffith e Antonio Banderas estavam tendo um romance. Na mesma ocasião, Melanie se separou do ator Don Johnson e, um ano depois, se casou com Baderas ficando juntos por 18 anos. No filme, há um pôster na parede do estúdio de arte que diz “Exponha-se à arte”. Este pôster, com foto tirada por Mike Ryerson, teve lançamento real em 1978, e o homem “exibicionista” abrindo sua capa para a escultura de uma mulher nua (obra “Kvinneakt”, de Norman J. Taylor) se chamava Bud Clark, que mais tarde, em 1985, se tornou governador de Portland, Oregon. Bud Clark faleceu em 1º de fevereiro de 2022. O elenco do filme inclui quatro indicados ao Oscar: Antonio Banderas, Melanie Griffith, Danny Aiello e Joan Cusack.

Sorrisos de Uma Noite de Verão (Sommarnattens leende)
Suécia, 1995, Romance, Comédia, 1h49 min, 14 anos
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Ulla Jacobsson, Eva Dahlbeck, Harriet Andersson, Margit Carlqvist, Gunnar Björnstrand e Bibi Andersson
Sinopse: Na Suécia, no final do século XIX, membros da alta classe e seus criados se veem envolvidos em um caso romântico que tentam resolver em meio a ciúmes e desilusões.
Curiosidades: “Sonhos de Uma Noite de Verão”, de William Shakespeare, serviu de inspiração para o enredo e o tom do filme, que foi rodado em apenas 55 dias, no meio de uma onda de calor. Segundo Ingmar Bergman, a Svensk Filmindustri inscreveu esse filme para o Festival de Cannes daquele ano sem informá-lo. Ele disse, ainda, ter descoberto isso ao ler um jornal no qual havia a manchete “Sucesso Sueco em Cannes”, o que o levou a perceber que estavam falando do seu filme. Na época de seu lançamento oficial, o filme, que tinha nos principais papéis femininos Ulla Jacobsson, Eva Dahlbeck, Harriet Andersson e Margit Carlqvist, trazia o seguinte slogan: “A comédia romântica mais espirituosa e ousada do ano, estrelando quatro das atrizes mais bonitas da Suécia”. Apesar do tom cômico do filme, Ingmar Bergman começou a trabalhar no projeto durante um dos seus períodos mais depressivos. Bergman comentou posteriormente em uma entrevista que estava tão deprimido que só via duas alternativas: “escrever ‘Sorrisos de uma Noite de Verão’ ou dar um fim à própria vida”.

Limonov: O Camaleão Russo (Limonov: The Ballad)
Rússia, 2024, Biografia, Romance, 1h18 min, 16 anos
Direção: Kirill Serebrennikov
Elenco: Ben Whishaw, Viktoria Miroshnichenko, Tomas Arana
Sinopse: Cinebiografia de Eduard Limonov, poeta radical soviético que viveu em condições miseráveis em Nova York, virou uma sensação na França e tornou-se um anti-herói político na Rússia.
Curiosidades: Selecionado para o Festival de Cannes 2024, concorrendo à Palma de Ouro. A história é uma biografia romanceada do escritor e político dissidente russo Eduard Limonov (1943–2020), fundador do Partido Nacional Bolchevique. O francês Emmanuel Carrère, autor do livro que deu origem ao filme, é também cineasta e dirigiu “Entre Dois Mundos”, elogiado longa-metragem estrelado por Juliette Binoche. Em 2017, o polonês Pawel Pawlikowski, diretor de “Ida” (vencedor do Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro), adaptou esta mesma biografia de Eduard Limonov, a qual ele planejava dirigir, mas em 2020 declarou ter abandonado os planos de realizar o filme. Kirill Serebrennikov, realizador deste filme, foi aclamado mundialmente por seu longa-metragem anterior, “A Esposa de Tchaikovsky” (2022), sucesso de crítica e público também no Brasil.

ESTREIAS 17 DE JULHO

Adeus, Garoto (Ciao Bambino)
Itália, 2024, Drama, Romance, 1h40 min, 16 anos
Direção: Edgardo Pistone
Elenco: Marco Adamo, Anastasiia Kaletchuk, Luciano Pistone e Pasquale Esposito
Sinopse: No final do verão de seus dezenove anos, Attilio, um jovem que vive em um bairro popular de Nápoles, recebe a missão de proteger uma jovem prostituta do Leste Europeu. Sem poder admitir abertamente, Attilio acaba se apaixonando por ela. No entanto, quando seu pai é libertado da prisão e precisa saldar uma dívida considerável, Attilio se vê diante de uma escolha difícil: o amor pela garota ou a lealdade ao pai. Sua liberdade e sua vida, até então estáveis, estão em jogo.
Curiosidades: O diretor incorporou traços de sua própria relação com o pai e com amigos do bairro, embora ele próprio nunca tenha protegido uma prostituta. Luciano Pistone, pai do diretor, interpreta o pai do protagonista. O elenco foi formado com base em longa seleção de talentos de rua, buscando naturalidade, vitalidade e proximidade com os personagens. As filmagens ocorreram no Rione Traiano, periferia de Nápoles, local onde Pistone cresceu. O bairro foi usado para reforçar um senso de isolamento e “não-lugar”. A trilha musical híbrida, com composições de K-Conjog (nome artístico de Fabrizio Somma), mistura influências clássicas e eletrônicas para refletir o tom dramático e melódico do filme. A escolha do preto e branco para a fotografia reforça um realismo universal e dá à obra um tom atemporal.

Mamãe Küster Vai ao Céu (Mutter Küsters’ Fahrt zum Himmel)
Alemanha Ocidental, 1975, Drama, Político, 112 min, 14 anos
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Brigitte Mira, Ingrid Caven, Karlheinz Böhm, Margit Carstensen, Irm Hermann e Kurt Raab
Sinopse: Após seu marido matar um supervisor e se suicidar, Frau Küsters busca justiça e apoio, tornando-se alvo de manipulações políticas e midiáticas.
Curiosidades: História inspirada em eventos reais. No Festival de Berlim 1975, o filme causou comoção, o público atacou Fassbinder com raiva e, no final, ele recebeu um rolo de papel higiênico como prêmio. Apesar de seu teor político, o filme usa uma mise-en-scène sofisticada: planos longos, movimentos de câmera calculados e uma paleta de cores marcante — características do estilo de Fassbinder. A atriz Brigitte Mira, famosa por seu papel em “O Medo Devora a Alma” (1974), interpreta a Sra. Küsters, e Fassbinder escreveu o papel especialmente para ela. O filme satiriza tanto a imprensa sensacionalista quanto os extremos políticos — a esquerda revolucionária e a direita conservadora — que tentam se apropriar da tragédia da protagonista. A obra também denuncia como os meios de comunicação manipulam histórias para gerar audiência, distorcendo os fatos e destruindo vidas no processo.

Sonhos de Mulheres (Kivnnodrom)
Suécia, 1955, Drama, 1h27 min, 16 anos
Direção: Ingmar Bergman
Elenco: Eva Dahlbeck, Harriet Andersson e Gunnar Björnstrand
Sinopse: Duas mulheres diferentes — uma jovem modelo fotográfica e seu chefe — sonham com uma vida feliz com homens amados. Porém, seus sonhos são tão diferentes quanto elas.
Curiosidades: “Sonhos de Mulheres” foi realizado como um pagamento de “dívida” com a produtora Sandrew-Produktion, que havia apostado em “Noites de Circo” (1953), um inesperado fracasso de crítica e público na Suécia, e o resultado deste acabou sendo mais popular que o habitual para Bergman. Considerado “menor” em comparação com seus grandes clássicos, o filme surpreende pela construção visual e narrativa mais leve, mas ainda carregada de reflexões intimistas sobre decepção. Cenários como a estação central e o parque de diversões Liseberg foram usados em locações reais.

A Noite Escura (La Noche Oscura)
Espanha, 1989, Drama, 1h33 min, 16 anos
Direção: Carlos Saura
Elenco: Ingrid Bergman, Mário Vitale e Renzo Cesana
Sinopse: Um estudo fascinante do poeta São João da Cruz e seu período em confinamento solitário. Situado no convento de Toledo, este filme explora as tentações que o cercavam, os sonhos que o afligiam, sua santidade e sua sanidade.
Curiosidades: Filme selecionado para o Festival de Berlim 1989. O orçamento do filme foi de 250 milhões de pesetas. A maior parte das filmagens foi feita em Madri, nos estúdios Roma, mas outras partes foram rodadas na Abadia de Veruela, em Tarazona e em Toledo. O filme retrata os nove meses em que São João da Cruz ficou preso em um mosteiro carmelita em Toledo, refletindo seu processo interno de criação poética. A fotografia, assinada por Teo Escamilla, evolui de uma narrativa convencional para planos em claros‑escuros expressivos, simbolizando o mergulho interior do protagonista. Inserções de alucinações, sonhos e aparições (Julie Delpy interpreta figuras como a Virgem e tentações) adicionam uma camada quase fantástica e onírica à narrativa.

ESTREIAS 24 DE JULHO

Samurai: O Guerreiro Dominante (Miyamoto Musashi)
Japão, 1954, Ação, Romance, 1h33 min, 14 anos
Direção: Hiroshi Inagaki
Elenco: Toshiro Mifune, Mariko Okada e Rentaro Mikuni
Sinopse: O filme retrata o início da vida do lendário guerreiro Musashi Miyamoto; seus anos como um aspirante a guerreiro, um fora da lei e, finalmente, um verdadeiro samurai.
Curiosidades: Vencedor do Oscar honorário de Melhor Filme Estrangeiro em 1955, representando o Japão antes da criação da categoria oficial. Primeiro filme de uma trilogia baseada no famoso romance homônimo de Eiji Yoshikawa. Os outros dois são “Duel at Ichijoji Temple” (1955) e “Duel at Ganryu Island” (1956). Um dos primeiros filmes japoneses de samurai filmados em Eastmancolor, com visual marcante e paisagens estilizadas, contribuindo para sua recepção internacional. O papel de Musashi é interpretado por Toshirō Mifune, um dos atores mais icônicos do cinema japonês, famoso por suas colaborações com Akira Kurosawa.

O Direito do Mais Forte (Faustrecht der Freiheit)
Alemanha Ocidental, 1975, Drama, 123 min, 18 anos
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Rainer Werner Fassbinder, Peter Chatel, Karlheinz Böhm
Sinopse: Fox, um operário gay, ganha na loteria e se envolve com Eugen, um burguês que explora sua ingenuidade e fortuna.
Curiosidades: O próprio diretor Rainer Werner Fassbinder interpreta o personagem principal, Franz “Fox” Biberkopf. O filme satiriza e denuncia as estruturas de poder, exploração e hipocrisia dentro da própria comunidade LGBTQ+, especialmente no contexto da classe média-alta. Ao contrário do que se poderia esperar, a obra foi mal recebida por setores do movimento LGBTQ+ na época, que a viam como excessivamente pessimista e estigmatizante. Com o tempo, esse filme passou a ser considerado uma obra-prima, sendo hoje um dos mais estudados da filmografia de Fassbinder.

Beltenebros (Beltenebros)
Espanha, 1991, Crime, Drama, 1h49 min, 16 anos
Direção: Pilar Miró
Elenco: Terence Stamp, Patsy Kensit, José Luis Gómez
Sinopse: Madri, 1962. Mais de vinte anos após o fim da guerra civil, um comunista retorna à Espanha para matar um traidor.
Curiosidades: O filme é uma adaptação do livro homônimo de Antonio Muñoz Molina, publicado em 1989. O estilo da obra combina elementos de thriller político, drama existencial e film noir, com iluminação expressionista, ambientes escuros e personagens ambíguos. A fotografia é assinada por Javier Aguirresarobe, e foi vencedora do Goya (o Oscar espanhol) em 1992. A diretora Pilar Miró, que já era um nome consolidado no cinema espanhol e na televisão, com esse filme marcou seu retorno ao cinema, após problemas de censura e escândalos públicos nos anos 1980. A atriz principal, a inglesa Patsy Kensit, foi casada de 1997 a 2000 com Liam Gallagher (da banda Oasis), com quem tem um filho.

Entre Dois Mundos (Ouistreham)
França, 2021, Drama, 1h6 min, 12 anos
Direção: Emmanuel Carrère
Elenco: Juliette Binoche, Hélène Lambert, Louise Pociecka
Sinopse: Marianne Winckler, uma renomada autora francesa, decide escrever um livro sobre a insegurança no trabalho vivenciando essa realidade em primeira mão. Ela consegue trabalho como faxineira e descobre uma vida onde cada centavo faz falta. No entanto, ao viver essa provação, ela forja laços genuínos e calorosos com alguns de seus companheiros de infortúnio. A ajuda mútua leva à amizade; a amizade leva à confiança. Mas o que acontecerá com essa confiança quando a verdade for revelada?
Curiosidades: Filme selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes. Baseado no livro-reportagem “Le Quai de Ouistreham” (2010), da jornalista Florence Aubenas, que se infiltrou no serviço de faxina das travessias do Canal da Mancha. O diretor Emmanuel Carrère e a co‑roteirista Hélène Devynck adaptaram o livro transformando a protagonista em escritora, mesclando realidade e ficção para maior carga emocional. “Entre Dois Mundos” colocou Juliette Binoche atuando com elenco não profissional, experiencia que revelou laços fortes e convincentes entra a veterana francesa e as colegas de limpeza Hélène Lambert, Léa Carne, Marianne, Chrystèle e Marilou.

ESTREIAS 31 DE JULHO

A História de O: Prazeres Ocultos (The Story of O: Untold Pleasures)
EUA, 2002, Drama, 1h38 min, 18 anos
Direção: Phil Leirness
Elenco: Danielle Ciardi; Neil Dickson; Max Parrish
Sinopse: Sir Stephen apresenta O, uma talentosa fotógrafa de quase 20 anos, a um mundo sedutor de engano, poder e erotismo.
Curiosidades: Adaptação moderna do clássico erótico “Story of O” (1954), escrito por Pauline Réage. Phil Leirness assina a direção e o roteiro, em parceria com Ron Norman e a própria autora Pauline Réage (sob pseudônimo). A música lembra as trilhas sensuais estilo Emmanuelle, mesclando romantismo e com atmosfera de fetiche.

Roleta Chinesa (Chinesisches Roulette)
Alemanha Ocidental, 1976, Drama Psicológico, 86 min, 14 anos
Direção: Rainer Werner Fassbinder
Elenco: Anna Karina, Margit Carstensen, Brigitte Mira
Sinopse: Um casal burguês e seus amantes se encontram inesperadamente em uma casa de campo, onde segredos são revelados durante um jogo de “roleta chinesa”.
Curiosidades: O título se refere a um jogo cruel de palavras que acontece no final do filme, mas também simboliza as relações manipuladoras e psicológicas entre os personagens. O elenco conta com a atriz Anna Karina, ícone da Nouvelle Vague e ex-musa de Jean-Luc Godard. A fotografia de Michael Ballhaus usa espelhos, portas e enquadramentos simétricos para destacar o distanciamento emocional entre os personagens e criar uma mise-en-scène claustrofóbica.

Trilha Sonora Para um Golpe de Estado (Soundtrack to a coup d’etat)
Bélgica, 2024, Documentário, 2h30 min, 14 anos
Direção: Johan Grimonprez
Elenco: Nina Simone, Patrice Lumumba, Dag Hammarskjöld e Luís Armstrong
Sinopse: Jazz e descolonização são entrelaçados numa montanha-russa histórica que reescreve o episódio da Guerra Fria que levou os músicos Abbey Lincoln e Max Roach a invadirem o Conselho de Segurança da ONU em protesto contra o assassinato de Patrice Lumumba — político que liderou a independência da República Democrática do Congo.
Curiosidades: Indicado ao Oscar 2025 de Melhor Documentário. Vencedor do Prêmio Especial do Júri por Inovação Cinematográfica no Festival de Sundance. Os músicos Abbey Lincoln e Max Roach interromperam uma sessão do Conselho de Segurança da ONU em 1961 para protestar contra o assassinato de Patrice Lumumba, evento reconstruído no filme.

O Terceiro Tiro (The trouble with Harry)
EUA, 1955, Comédia, Suspense, 1h39 min, 12 anos
Direção: Alfred Hitchcock
Elenco: João Forsythe, Shirley MacLaine, Edmundo Gwenn e Mildred Natwick
Sinopse: Em uma pacata vila de Vermont, o corpo de um homem chamado Harry é encontrado na floresta. Porém, ninguém sabe exatamente como ele morreu — e vários moradores acreditam ser responsáveis por sua morte. Entre enterros improvisados e confissões absurdas, a comunidade se envolve em uma trama cômica e macabra.
Curiosidades: Apesar de ser conhecido por thrillers e suspenses, Hitchcock aqui explora a comédia de humor ácido, tratando a morte de forma leve, irônica e cotidiana. Roteiro baseado no livro homônimo de Jack Trevor Story, publicado em 1949, com adaptação feita por John Michael Hayes, colaborador frequente de Hitchcock. Esse foi o primeiro papel no cinema de Shirley MacLaine, que havia sido descoberta por um produtor da Paramount enquanto substituía Carol Haney em um musical da Broadway. Um dos poucos filmes de Hitchcock em Technicolor vívido, com belas paisagens de outono que contrastam ironicamente com o tema da morte. Apesar de ter sido planejado para ser filmado em Vermont, o mau tempo forçou Hitchcock a reconstruir parte do cenário em estúdio na Califórnia, incluindo uma floresta artificial.

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