Cena de ‘Vila Polar’ (Foto: Reprodução/ Divulgação)

No próximo dia 25 de julho, às 19h30, ocorre o lançamento do filme  Vila Polar, dirigido por Paulo Tothy. A produção propõe uma reflexão sobre memória, patrimônio e pertencimento, tendo como cenário o tradicional bairro de Vargem Grande do Sul e as recentes perdas arquitetônicas e históricas no centro da cidade. A exibição com entrada gratuita acontece no Espaço Mais Cultura, na Rua João Malaguti, 385 – Jd. Novo Mundo.

O curta-metragem utiliza a ficção para se aproximar da realidade. Na história, a Vila e seus moradores são ameaçados por estranhas mensagens e aparições, enquanto conflitos urbanísticos revelam-se aos poucos. Um carteiro cumpre a sua rotina diária, mas aquele não é um dia normal como qualquer outro. Na disputa entre o passado e o futuro, a memória parece estar ameaçada.

A intenção de realizar o filme neste território parte da observação de transformações urbanas e da relação afetiva com os espaços da cidade, especialmente diante da demolição de edifícios com valor histórico, como casarões e antigos armazéns. Segundo o diretor vargengrandense, Vila Polar busca “reativar presenças e criar novos significados para espaços em ruínas, utilizando intervenções poéticas como forma de diálogo com o passado”. Ele ressalta que o filme não se limita à nostalgia: “É um convite à invenção de memória e à reflexão sobre o que permanece. Me aprofundar neste tema chamou a minha atenção para as minhas próprias ruínas e porque não os meus próprios ‘casarões’, como é a casa da minha avó, que é uma personagem fundamental neste filme. Tudo partiu dela e da memória viva e fundamental daquele lugar”.

A execução do filme é fruto da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Paulo Gustavo do Ministério da Cultura do Governo Federal, realizada no âmbito municipal com apoio do Departamento de Cultura e Turismo. A Lei em questão foi aprovada em 2022, com o objetivo de criar ações emergenciais destinadas ao setor cultural em decorrência da pandemia do COVID-19. Este tipo de fomento é comemorado e defendido pelo realizador: “É muito importante que haja incentivo, no momento em que a Lei foi aprovada, o setor audiovisual era terra arrasada”. Alguns anos após a aprovação já é possível notar os efeitos positivos da realização de produções audiovisuais em 98% dos municípios brasileiros que aderiram à Lei. “Está acontecendo neste momento no Brasil uma vasta documentação de histórias muito diversas, que ajudarão pensar o país, porque o cinema tem essa capacidade” conclui.

Vale recordar que o território da Vila Polar e outros pontos da cidade já ficaram famosos mundialmente nas célebres gravações do filme O Cangaceiro em 1953. O diretor do longa, Lima Barreto, natural da vizinha Casa Branca (SP), conhecia bem a região e teve a ideia de simular o sertão nordestino nas paisagens do interior paulista. “A região do interior de São Paulo, especialmente nos arredores de Vargem Grande do Sul, apresenta formações vegetais típicas do cerrado, com árvores espaçadas, troncos retorcidos e vegetação rasteira e seca. Esse bioma, se estende por partes do Centro-Oeste e do Sudeste, possuindo semelhanças visuais com a caatinga nordestina, vegetação também marcada pela aridez, resistência e adaptação ao clima semiárido”. Conclui o professor e pesquisador Mateus Baratelli.

Mais de setenta anos após as filmagens do premiado longa, nas mesmas ruas onde andou o cangaceiro Galdino, pisa agora Leandro José, professor e ator que interpreta o personagem principal do curta-metragem. Na pele de um carteiro, o protagonista percorre a cidade e observa diariamente as suas mudanças. Para Leandro, participar do filme foi uma experiência pessoal significativa: “Estar no lugar em que vivi grande parte da minha vida, agora com o protagonismo marcado pela arte, foi profundamente marcante. Preservar o patrimônio é também preservar muito de nós mesmos.”

A arquiteta e diretora de arte Elisa Sbardelini, também nascida na cidade, destaca o contraste entre Vargem Grande do Sul e cidades vizinhas no que diz respeito à preservação patrimonial: “Enquanto outras localidades conseguiram manter parte significativa de sua história arquitetônica, em Vargem seguimos apagando camadas importantes da nossa identidade.”

Um momento de clímax do filme é a utilização da Bazuca Poética — uma intervenção artística que projeta palavras e imagens sobre muros, fachadas e ruínas da cidade. O artista Cauê Maia, responsável pela ação, explica que, apesar de efêmera, a projeção contribui para o registro coletivo: “A intervenção tem curta duração, mas transforma o espaço enquanto acontece. O filme funciona como uma camada adicional de memória sobre lugares que, muitas vezes, já estavam invisíveis para os moradores.”

A escolha de trabalhar com produção e artistas locais também foi estratégica. “Queríamos reafirmar que arte e memória não são temas distantes. Elas estão presentes no cotidiano, nos modos de habitar e nas nossas histórias, que sempre serão melhores se contadas por nós mesmos.”, afirma Paulo.

Como contrapartida do projeto, Vila Polar será exibido em duas escolas do município, promovendo uma ação educativa que visa aproximar os estudantes do universo do filme e das questões que ele aborda. A exibição será realizada em escolas da rede municipal de ensino, após o retorno das atividades escolares em agosto de 2025. A obra, com classificação indicativa livre, pode ser exibida e comentada pelos alunos, gerando um espaço para reflexão sobre as relações da comunidade com o próprio território.

Para a noite de exibição, o diretor do filme que também é produtor cultural e curador de um cineclube preparou uma programação especial que contará com a presença do elenco e equipe. Além do lançamento de “Vila Polar” (09’, 2025), será exibido o documentário “Retrato de Dora” (15’, 2014), de Bruna Callegari, e “Recife Frio” (25’, 2009) ,do premiado diretor Kleber Mendonça Filho. As obras colaboram no debate acerca da memória do território e mudanças climáticas. Após a exibição, haverá um bate-papo com os envolvidos no projeto, promovendo o diálogo sobre memória, arte e preservação.

Sobre o diretor
Paulo Tothy é formado em Publicidade e Propaganda pela PUC Minas e iniciou sua trajetória no audiovisual em 2009, durante um curso itinerante do Cine Tela Brasil, projeto idealizado pela cineasta Laís Bodansky. Ao longo dos anos, tem pesquisado e produzido para diversas linguagens do cinema. Estudou Direção de Arte e Roteiro para cinema na Escola Internacional de Cinema de São Paulo, dirigindo documentários pessoais e videoclipes para artistas da música na cidade de Poços de Caldas (MG), onde reside e desenvolve sua carreira. Além produção audiovisual, realiza trabalhos de comunicação para projetos culturais e assume a curadoria de cinema e artes visuais, em projetos relevantes como o Cine Fricção e a MIA – Mostra Integrada de Artes, sempre buscando valorizar a arte independente e regional. Vila Polar é seu mais recente projeto, que reflete seu olhar atento à memória, identidade e à transformação dos espaços urbanos.

Serviço
Lançamento do curta metragem “Vila Polar”
Data: 25 de julho de 2025
Horário: 19h30 – 21h
Local: Espaço Mais Cultura, R. João Malaguti, 385 – Jd. Novo Mundo
Entrada gratuita

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