Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte chega à 5ª edição (Foto: Virginia Dandara)

Como fazer do mar a casa? Guiada por esta pergunta a 5ª edição da Semana de Cinema Negro anunciou o calendário de sua programação entre os dias 16 a 24 de outubro, nos seguintes cinemas de Belo Horizonte (MG):

  • 16 a 22 de outubro no Cine Humberto Mauro/Palácio das Artes, (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro, Belo Horizonte)
  • 18, 19 e 22 a 24 de outubro no Cine Santa Tereza  (R. Estrela do Sul, 89 – Santa Tereza)

Com entrada totalmente gratuita, o festival oferece exibições de filmes nacionais e internacionais, sessões comentadas, debates e atividades formativas abertas para todo o público, valorizando em sua curadoria obras cinematográficas de realizadores negros, brasileiros, africanos e da diàspora.

Para a diretora artística Layla Braz, a Semana de Cinema Negro alcança este ano, em sua quinta edição, um marco importante em sua trajetória até aqui. “Os desafios têm sido muitos, o festival cresce mais rápido do que os meios de incentivo conseguem acompanhar. É nesse movimento de expansão que as águas se fazem ainda mais presentes nesta edição”, ela completa. “Desde o início do mundo, elas testemunham, transformam, acolhem e se adaptam, como os mares e rios que se encontram. E a Semana também se fortalece nas conexões criadas desde a sua primeira edição”.

A abertura do festival contará com a exibição do filme Cais, o primeiro longa de Safira Moreira. A sessão acontece no Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes) dia 16 de outubro,  às 20h. “Tenho uma relação com Minas Gerais por causa do meu pai, que foi criado em Belo Horizonte, no bairro de Santa Efigênia, após meus avós migrarem do nordeste. Existe uma sede em mim de percorrer esse território, percorrer as memórias do meu pai, da minha avó, de toda minha família paterna com esse território”, ela relata, adicionando também reflexões sobre a temática das águas que norteiam essa edição da SCN.

“A energia das águas é a energia que conduz a minha existência, é o que me constitui como pessoa, ser… E muito pela minha mãe ser uma mulher e filha de Oxum, ela tinha essa água abundante, que segue nos banhando. A água, pra mim, é como uma atualização do próprio tempo. Um tempo onde consigo alcançar minha mãe no filme, no mistério do rio, na transmutação das coisas. Estou muito feliz de fazer essa sessão na abertura da Semana do Cinema Negro. Vai ser um momento especial, estarei com as minhas irmãs, estaremos com nossas filhas, pela primeira vez todas juntas para ver esse filme. Já fico emocionada só de pensar.”

Seleção Cine-Escrituras Pretas
Uma das mostras integrantes da programação da Semana de Cinema Negro, o Cine-Escrituras Pretas se dedica a apresentar filmes de realizadores brasileiros e contou com a curadoria de Larissa Barbosa (diretora, roteirista e sócia-fundadora da Moringa Filmes), Mariana de Souza (curadora, pesquisadora e educadora independente) e Tatiana Carvalho Costa (professora, curadora e presidenta da APAN-Associação de Profissionais do Audiovisual Negro).

De acordo com as curadoras, o conjunto de filmes selecionados, à sua própria forma, fazem incursões narrativas e estéticas numa jornada em busca daquilo que há de mais particular nas experiências de estar no mundo. Orbitando tematicamente entre sombras e reflexos de identidade, pertencimento e sobrevivência, estes filmes rompem silêncios, tradições e ritmos que se reinventam como ondas, valorizando a força de comunidades que resistem apesar das marcas coloniais.

Em um trecho da carta de curadoria, elas apontam: “Mergulhar no profundo e intangível das próprias memórias pode ser ora belo, ora doloroso — como abalar a quietude misteriosa de um rio ou enfrentar as ondas revoltas do mar. (…) Neste mergulho, conhecemos as verdades do próprio tempo, sentimos a presença, o suor e o frio do próprio corpo. (…). O que você vê? Você consegue ver? Como escreveu Aline Motta: ‘Estávamos nadando ou sendo levados pelas ondas?’ A interrogação ecoa o desafio que propomos aqui: enfrentar as águas da memória e do imaginário como espaço de agência e criação”.

Esse ano o festival recebeu cerca de 260 filmes inscritos, de obras realizadas entre 2024 e 2025. Os 18 filmes na Seleção Cine-Escrituras Pretas 2025 são:

A INVENÇÃO DO ORUM, Paulo Sena
Espírito Santo (ES), 18′, 2025

AMOR É UM RIO DE ÁGUAS ESCURAS, Aziza Eduarda
Minas Gerais (MG), 16’ 2025

BÁRBARA, Joyce Cursino
Pará (PA), 18’, 2024

E SEU CORPO É BELO, Yuri Costa
Rio de Janeiro (RJ), 23’, 2024

ESPELHO DA MEMÓRIA, Filipe Travanca e Roberto Simão
São Paulo (SP), 16’, 2024

ESTRANGEIRO, Edigar Martins
Ceará (CE), 16′, 2025

GINGA REGGAE, Naýra Albuquerque
Maranhão (MA), 51′, 2024

MÃE DE OURO, Maick Hannder
Minas Gerais (MG), 14’, 2024

MAR DE DENTRO, Lia Letícia
Pernambuco (PE), 8′, 2024

MEU PAI E A PRAIA, Marcos Alexandre
Bahia (BA), 15’, 2024

MINHA PELE PRETA EM TERRA VERDE, Teddy Falcão
Acre (AC), 21’, 2025

NOTAS SOBRE A IDENTIDADE, Marisa Arraes
Distrito Federal (DF), 20′, 2024

O CADERNO DE AVENCA, Aisha Brunno
Minas Gerais (MG), 20’, 2024

QUEIMANDO POR DENTRO, Matheus Farias e Enock Carvalho
Pernambuco (PE), 16’27”, 2024

SONHO EM RUÍNAS, Priscila Nascimento
Pernambuco (PE), 04’21”, 2024

TIGREZZA, Vinicius Eliziário
Bahia (BA), 35′, 2025

VBP (VACAS BRANCAS PREGUIÇOSAS), Asaph Luccas
São Paulo (SP), 18’50”, 2024

VOZ ZOV VZO, Yhuri Cruz
Rio de Janeiro (RJ), 51′, 2025

Para democratizar o acesso aos filmes, a Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte irá disponibilizar os filmes da mostra Cine-Escrituras Pretas via Ubuplay (ubuplay.com), a maior plataforma de streaming gratuita destinada aos filmes realizados por pessoas negras afrodiaspóricas.

Os filmes serão exibidos no Cine Humberto Mauro e contarão com medidas de acessibilidade – vale frisar que o Palácio das Artes, onde este cinema se localiza, também conta com adaptações no espaço, buscando a inclusão de todo o público. Os ingressos para o festival são retirados por ordem de chegada na bilheteria do Cine Humberto Mauro.

Atividades de Formação

Dentro da programação da Semana de Cinema Negro serão oferecidas, também de modo gratuito – mas com inscrições -, duas atividades de cunho educativo:

  1. Fotolivros africanos contemporâneos, ministrada por Ana Paula Vitorio – O curso aborda o panorama dos fotolivros contemporâneos publicados por pessoas fotógrafas e artistas nascidas no continente africano. Ao longo dos encontros, serão apresentadas e discutidas obras representativas de seus respectivos contextos criativo e regional. Ana Paula Vitorio, pesquisadora, curadora, e professora, Ana Paula (1984) tem pós-doutorado na University of the Free State (África do Sul), é doutora pelo programa de Literatura, Cultura e Contemporaneidade da Puc-Rio, e mestre em Comunicação pela UFJF.

Dias 17, 18 e 20 de outubro de 10h às 13h.

*Link para inscrição: https://forms.gle/CCTHgBABjZ2XnbvAA

*Encontros presenciais no Cine Humberto Mauro (Palácio das Artes)

  1. Introdução à preservação audiovisual digital: conceitos e práticas, ministrada por Débora Butruce – A produção diária de conteúdo audiovisual digital é massiva, exigindo tanto de usuários como de criadores — seja no âmbito pessoal, seja no profissional —, bem como de instituições e organizações independentes, uma postura ativa para garantir a preservação a longo prazo de suas criações. Diante da fragilidade e da obsolescência programada da tecnologia digital, a conservação desses conteúdos requer gestão e planejamento contínuos, além de políticas, estratégias e ações que assegurem o acesso permanente às obras. Este curso abordará o gerenciamento de acervos digitais e as melhores práticas para  o acondicionamento desses materiais, examinando a preservação audiovisual digital de diferentes perspectivas. Serão apresentados aspectos conceituais, históricos, metodológicos e práticos, para oferecer aos participantes uma ampla compreensão das particularidades que constituem esse campo. Débora Butruce é preservadora audiovisual, restauradora de filmes e curadora independente. Doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP, possui experiência de 24 anos na área de preservação audiovisual e trabalhou em instituições como o Centro Técnico Audiovisual (CTAv), Arquivo Nacional, Cinemateca do MAM-Rio e em projetos com a Cinemateca Brasileira.
  2. Dias 22, 23 e 24 de outubro às 10h
  3. *Link para inscrições: https://forms.gle/hKT4GCNkCzq9Dj6W8*Encontros presenciais no Instituto Cervantes (Rua dos Inconfidentes, 600 – Savassi, Belo Horizonte – MG, 30140-120)

Identidade Visual
Em 2025 a identidade visual da Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte é assinada pela artista Larissa de Souza. Paulistana, a artista autodidata produz uma pintura majoritariamente figurativa, concentrando-se na imagem da mulher afro diaspórica em seu universo particular e coletivo. Sua pintura carrega a história das mulheres de sua linhagem e a força de muitas outras.

A pesquisa de Souza navega entre corpo, desejo, ancestralidade e memórias pessoais. As cenas retratadas são íntimas, domésticas e quase confessionais, e ao mesmo tempo, vasculham as memórias colhidas no imaginário popular brasileiro e em seu inconsciente. Seu trabalho propõe novas formas de olhar para a representação da experiência negra feminina na pintura contemporânea.

Sobre a Semana de Cinema Negro
A 5ª edição da Semana de Cinema Negro de Belo Horizonte é produzida pela Quiabo Produções Culturais, com patrocínio do Banco BS2, realização da Lei de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte, projeto n° 2238/2023, e da Política Nacional Aldir Blanc na Secretaria de Cultura e Turismo de Minas Gerais – SECULT/MG, Nº de inscrição 15780. O evento também conta com apoio do FICINE – Fórum Itinerante do Cinema Negro, Projeto Paradiso, Instituto Cervantes, Fundação Clóvis Salgado/ Palácio das Artes, Cine Humberto Mauro, Cine Santa Tereza e Royal Hoteis.

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