Cena de ‘Arte da Diplomacia’ (Foto: Anti Filmes)

O Curta! turou a penúltima semana do ano para trazer debates importantes à tela. O canal terá como foco: a crise climática e a proteção de terras indígenas com o documentário Watoriki, protagonizado por Davi Kopenawa, e exibido na sexta-feira (26), às 22h; e
na terça (23), no mesmo horário, a história de como artistas brasileiros contribuíram para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial em Arte da Diplomacia.

Em Watoriki, Kopenawa defende povos originários como protetores da natureza
A paixão de Davi Kopenawa pela floresta e pelo seu povo, os Yanomami, move sua vida. Ao entender sua riqueza e sua ligação com a terra, ele também descobriu as ameaças que os cercam. No documentário “Watoriki — Conversa com Davi Kopenawa”, exibido no Curta!, o líder indígena repassa sua vida de lutas e questionamentos para mostrar a importância e o porquê de proteger a natureza.

Viabilizado pelo canal através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e produzido pela Aruac Filmes, o documentário de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha tem como cenário a aldeia de Kopenawa. O longa-metragem destaca a exuberante natureza e o cotidiano de atividades e ritos do povo Yanomami, atualmente a maior população indígena de um país sobrevivente a massacres, e ainda ameaçada.

“Nós, povo da floresta, vivíamos bem e nossa floresta tinha saúde. Nós, os Yanomami, e outros povos da floresta, vivíamos sozinhos. Os brancos ainda não se misturavam conosco. Os aviões não passavam pela nossa floresta. Era silencioso”, relembra ele.

Com os pais e com os líderes de sua aldeia, Davi Kopenawa aprendeu a defender a floresta. Deste pensamento, vieram outros, trazidos por mazelas e doenças. Ao ter contato com os homens da cidade, fica espantado com o descaso deles pelas riquezas sagradas da terra. Para marcar sua indignação com as atividades predatórias, Kopenawa usa, pela primeira vez no documentário, a língua portuguesa para se expressar.

“Chegando a Boa Vista, vi fazendeiros destruindo a floresta. O desmatamento, a poluição e o lixo eram as marcas sujas e os rastros do napë (brancos)”, conta.

Ao se questionar o porquê de o homem branco não ter amizade com a natureza, recorda os tempos de destruição da Ditadura Militar, fala sobre demarcação de terras dos povos originários e denuncia as consequências da crise climática. Mas ressalta o cheiro perfumado e os bons ventos de sua floresta.

“Moramos todos em uma única terra. Não há outra sobrando. O sopro vital é um, e nós respiramos juntos”, diz.

No documentário, o líder relembra o primeiro medo que teve quando iria deixar a mata pela primeira vez, ainda criança: “e se eu sentir saudades?”. O sentimento traduz a ligação que os povos originários têm com a natureza, uma entidade indissociável do seu estilo de vida.

“Eu me ofereci à natureza, me entreguei. Eu e a natureza temos amizade um pelo outro. A natureza pede para que os Yanomami a protejam e que ensinem os brancos”, alega Kopenawa.

“Watoriki — Conversa com Davi Kopenawa” é uma produção da Aruac Filmes, viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). O documentário pode ser visto no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro tv+ e no site oficial (CurtaOn.com.br).

‘Arte da Diplomacia’ conta a história da exposição modernista brasileira em Londres na 2ª Guerra
Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto as frentes de batalha na Europa causavam estragos e mortes, Londres, uma das cidades mais bombardeadas no conflito, recebia um suspiro em forma de arte e compromisso de paz. A história de como 70 artistas modernistas brasileiros levaram suas obras para a capital inglesa a fim de ajudar na luta contra o nazifascismo é contada no documentário Arte da Diplomacia, no Curta!.

Viabilizado pelo canal por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), o longa foi produzido pela Anti Filmes, Boulevard Filmes e Donna Features. Com relatos únicos de personalidades como a crítica Aracy Amaral e a historiadora Anita Leocádia Prestes e com imagens de arquivo, o documentário apresenta os motivos, os ideais, as estratégias e as consequências de expor ao mundo a arte brasileira moderna naquele momento.

“O que me chamou a atenção era o aspecto diplomático da iniciativa. Ela foi capitaneada por Osvaldo Aranha, que era o chanceler, e que esteve por trás do envio das tropas brasileiras para a Itália. Havia o objetivo claro de reposicionar o Brasil no imaginário e no sistema internacionais. Tratou-se de iniciativa de soft power”, explica o diplomata e pesquisador Hayle Melim Gadelha.

O diretor Zeca Brito recorre às origens das relações entre o Brasil e o Reino Unido e ao contexto de dificuldades políticas que os próprios artistas sofriam durante o Estado Novo de Getúlio Vargas para mostrar como a exposição serviu a vários propósitos, entre eles, obter prestígio internacional e mostrar ao mundo que o país chegava a uma nova era, deixando de ser um país exportador de matérias-primas para ser uma nação com peso e importância no campo das ideias.

“Essa coleção demonstra muito bem que não existe uma única arte brasileira, demonstra claramente a vivacidade de modelos estéticos e provocações estéticas. Se alguém fosse lá à procura de um Brasil, sairia compreendendo que havia 50 Brasis, ou muito mais. Porque cada uma daquelas obras, daqueles artistas, tinha um traço muito característico, uma autonomia artística muito grande”, afirma Vinicius Mariano de Carvalho, professor associado de Estudos Brasileiros no Brazil Institute do King’s College London.

Além de criar e fortalecer laços através das artes, o trabalho diplomático da exposição em Londres contribuiu diretamente na luta contra o Eixo na Segunda Guerra. Sucesso de público, com mais de 100 mil visitantes na Royal Academy, e de crítica, se estendendo para outras sete cidades, o valor arrecadado pela venda das obras foi doado à Força Aérea Britânica, que desempenhava importante papel no conflito.

O documentário explora a função política e social das artes, destacando como artistas e obras foram selecionados não só pelo critério do talento, mas também num intuito de provocação e reafirmação de valores humanitários. Se o nazismo considerava a arte moderna como um trabalho “degenerado”, a exposição abria um novo campo de resistência contra o preconceito.

Mais de 160 obras de artistas consagrados como Tarsila do Amaral, Cândido Portinari, Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, o único negro, e Carlos Scliar, judeu, comunista e gay, compuseram a mostra. Augusto Rodrigues, em depoimento pela ocasião da entrega dos trabalhos, definiu e exaltou o objetivo da iniciativa, fortalecendo os laços contra a extrema-direita.

“A presença dos nossos quadros em Londres representa a contribuição que viemos trazer ao esforço de guerra britânico. Como artistas, foi a melhor maneira que achamos de expressar aos ingleses a nossa admiração e solidariedade e esperamos que seja o nosso gesto apreciado no sentido moral e simbólico mais do que por seu valor material”, ressaltou.

“Arte Da Diplomacia” é uma produção original do Curta!. A produção também pode ser vista no CurtaOn – Clube de Documentários, disponível no Prime Video Channels, da Amazon, na Claro tv+ e no site oficial da plataforma (CurtaOn.com.br).

CONFIRA OS DESTAQUES DA PROGRAMAÇÃO

Segunda da Música – 22/12

22h– “Uma Garota Chamada Marina” (Documentário)
Com linguagem cinematográfica mista e roteiro não linear, o documentário musical de longa-metragem Uma Garota Chamada Marina retrata a trajetória de Marina Lima cantora e compositora brasileira, expoente da música popular com mais de 40 anos de carreira. O documentário é composto por imagens de arquivos audiovisuais, imagens inéditas do acervo privado da artista, registro de ensaios, gravações e shows, entrevistas com a artista e convidados sobre temas relevantes de seu percurso artístico, musical, pessoal e poético. A narrativa é conduzida por Marina num diálogo cinematográfico íntimo e direto tendo como fio condutor o material de arquivo captado ao longo do processo de criação, composição, ensaios e gravação principalmente do disco Clímax, entre outros.
Diretor: Candé Salles. Duração: 71 min. Classificação: 12 anos. Horários alternativos: dia 23 de dezembro, às 02h e às 16h; dia 24 de dezembro, às 10h; dia 27 de dezembro, às 15h40; dia 28 de dezembro, às 21h40

Terças das Artes – 23/12

18h – “Raiz Arte Afro-Brasileira” (Série) Episódio: Charlene Bicalho – Fabulando Tensionamentos INÉDITO E EXCLUSIVO
Série com curadoria da artista Rosana Paulino revela a surpreendente trajetória de 20 artistas afrodescendentes brasileiros que, com trabalhos ousados, provocadores, vigorosos e belos, trazem novas abordagens para questões como racismo, desigualdade, sexualidade, religiosidade, brasilidade e a própria arte. A invisibilidade de funcionários terceirizados é exposta quando uma artista relaciona a sua obra com o trabalho de faxineiras e seguranças de museus e instituições culturais.
Direção: Fabiano Maciel Duração: 14min Classificação: Livre Horários alternativos: dia 24 de dezembro, às 04h e às 12h; dia 25 de dezembro, às 06h; dia 27 de dezembro, às 19h; dia 28 de dezembro, às 04h45 e às 11h30

22h – “Arte da Diplomacia” (Documentário)
Londres, 1944: em meio aos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, a Arte Moderna brasileira era apresentada ao mundo pela primeira vez. Um gesto de diplomacia cultural que ficou esquecido por décadas, que uniu territórios e definiu o papel do país na luta contra o nazifascismo.
Direção: Zeca Brito Duração: 90 min Classificação: 14 anos Horários alternativos: dia 24 de dezembro, às 02h e às 16h; dia 25 de dezembro, às 10h; dia 27 de dezembro, às 14h; dia 28 de dezembro, às 20h

Quarta de Cinema – 24/12

22h – “O Prólogo” (Documentário)
“O Prólogo” discute o uso da propaganda política no cinema e na televisão, na década de 1960, desvendando a cultura dos antigos curtas-metragens que passavam antes das sessões principais de cinema no Brasil. Direção: Gabriel F. Marinho.
Duração: 94 min Classificação: Livre Horários alternativos: dia 25 de dezembro, às 01h30 e às 15h30; dia 26 de dezembro, às 09h30; dia 28 de dezembro, às 13h50; dia 29 de dezembro, às 01h

Quinta do Pensamento – 25/12

23h – “Victor Hugo e Os Miseráveis” (Documentário)
O nascimento do livro “Os Miseráveis”, romance que se tornou um monumento da literatura mundial, e a metamorfose política de seu autor rumo aos ideais do progresso social.
Direção: Grégoire Polet Duração: 52 min Classificação: Livre Horários alternativos: dia 26 de dezembro, às 03h e às 17h; dia 27 de dezembro, às 13h; dia 29 de dezembro, às 0h00 e às 11h

Sextas de História e Sociedade – 26/12

22h – Watoriki: – Conversa com Davi Kopenawa” (Documentário)
“Watoriki” é um testemunho do pensamento e da biografia de um dos mais importantes líderes indígenas do Brasil, o xamã Davi Kopenawa Yanomami. A partir de entrevistas, ele relata detalhes de sua vida, fatos históricos do povo Yanomami e como sua experiência como intérprete e tradutor do mundo dos brancos (napë) o levou a lutar pela floresta. Direção: Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha
Duração: 90 min Classificação: Livre Horários alternativos: dia 27 de dezembro, às 02h e às 08h30; dia 28 de dezembro, às 18h30; dia 29 de dezembro, às 16h; dia 30 de dezembro, às 10h

Sábado – 27/12

21h40– “Andy Warhol: Uma Vida na Arte” (Documentário)
Andy Warhol encontrou o sublime no cotidiano e elevou a cultura popular ao status de arte, tornando-se como um dos maiores ícones da história da arte mundial. Cercado pela elite nova-iorquina, sua obra criticava e celebrava a sociedade americana. Warhol não se limitou a registrar a modernidade, ele a transformou, rompendo barreiras sobre quem pode criar e quem deve consumir arte. Direção: Finlay Bald Duração: 46 min Classificação: 12 anos

Domingo – 28/12

23h – “Os Oligarcas de Putin – O Controle do Petróleo” (Documentário)
Em 24 de fevereiro de 2022, nas primeiras horas da “operação militar especial” na Ucrânia, Vladimir Putin convoca ao Kremlin os empresários mais poderosos da Rússia — os chamados oligarcas. A cena é transmitida pela televisão com fins de propaganda. O presidente reuniu esses homens, conhecidos por seus excessos e influência, para exigir lealdade pública e apoio financeiro.
Direção: Jérôme Fritel e Marc Roche Duração: 52 min Classificação: 12 anos

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