‘Dois Papas’ em cena no Brasil (Celso Frateschi e Zécarlos Machado, da esqu. à dir.) (Foto: AleCatan)

Após o sucesso na temporada de estreia no Sesc Guarulhos e Sesc Santo Amaro, Dois Papas volta aos palcos a partir de 22 de agosto, sexta-feira, às 20h, no Cultura Artística. A peça simboliza a retomada do teatro na sala principal do Cultura Artística, um espaço que marcou história na cultura brasileira ao longo dos seus 112 anos de existência.

Reinaugurado em agosto de 2024, depois de 16 anos fechado devido a um incêndio, o Cultura Artística teve projeto assinado pelo arquiteto Paulo Bruna, que preservou os espaços históricos do antigo edifício e, ao mesmo tempo, apontou para o futuro, com a atualização das salas de espetáculo e áreas de circulação. Na temporada inicial, o espaço focou a sua atuação em música, agora, expande a programação para receber espetáculos das mais diversas linguagens, incluindo os teatrais, vocação que fez parte de sua história e marcou diversas gerações.

A dramaturgia de Anthony McCarten tem sua primeira montagem internacional, com direção original deMunir KanaanCelso Frateschi e Zécarlos Machado interpretam respectivamente o cardeal Jorge Bergoglio e o Papa Bento XVI em uma trama de confronto de ideias de dois homens com visões de mundo diferentes, além de mostrar um respeito e amizade entre ambos. O elenco também conta com Carol Godoy Eliana Guttman. A produção é da Gengibre Multimídia Zug Produções. A temporada vai até 13 de setembro com sessões sempre sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 18h.

Com toques de humor, a história traz, de um lado, um refinado teólogo representante da tradição e dos velhos costumes da Igreja; do outro, um religioso carismático e com fama de rebelde disposto a construir pontes com as mudanças do mundo moderno. O cardeal argentino Jorge Bergoglio está decidido a pedir sua aposentadoria devido a divergências sobre a forma como o Papa Bento XVI tem conduzido a Igreja. No entanto, ele é surpreendido por um convite pessoal que mudará seu destino: um encontro com o próprio Papa.

Bento XVI considera renunciar ao papado diante das crescentes pressões e desafios enfrentados pela Igreja. Enquanto isso, Bergoglio, prestes a anunciar sua própria saída, torna-se um candidato improvável à sucessão. Agora, juntos, eles precisam superar suas diferenças e encontrar um novo caminho. Nesse encontro fascinante, visões de mundo se confrontam, segredos são revelados e a trama toma um rumo inesperado, levando Bergoglio a uma decisão que pode mudar não apenas o destino da Igreja, mas também o de sua própria vida.

“Em cena, é como se estivessem quatro papas. Temos, em segundo plano, o Papa Bento XVI e o futuro Papa Francisco — os papas públicos, conhecidos pelos grandes eventos e cerimônias, vistos pela TV e pela internet. E temos o mais interessante, o que busquei iluminar: a intimidade desses dois homens, o cotidiano, aquilo que não vemos na mídia. A possibilidade do diálogo é o que move essa história — são duas visões de mundo completamente diferentes. Bento XVI é mais conservador, mas é ele quem chama Bergoglio para conversar. E Bergoglio, apesar de ser um homem mais aberto, chega hesitante para ter esse papo reto. São as complexidades desse encontro que conduzem o diálogo sobre a necessidade de mudanças”, enfatiza o diretor Munir Kanaan.

A montagem possui uma série de recursos que contribuem visualmente para contar a história no palco. O cenário é uma instalação cênica onde predomina o branco, ganhando camadas por meio das cores dos figurinos religiosos ou de vestes do cotidiano, e dos objetos em cena. Os artifícios cenográficos constroem/desconstroem ao trazer cenas sacras e, principalmente, os momentos mais íntimos dos personagens. O videomapping busca trazer informações documentais, além de agregar uma força estética em um dos encontros mais emblemáticos entre os protagonistas. Já a trilha sonora tem como missão criar as ambientações e compor as transições.

OS DOIS PAPAS
“A cidade treme com vozes discordantes – marxistas, liberais, conservadores, ateus, agnósticos, místicos – e em cada peito o grito universal: “Eu falo a verdade!”. Essa é uma das frases do Papa Bento XVI que mais impressiona Zécarlos Machado em seu papel. Para o ator, a ideia do texto dialoga em cheio com a contemporaneidade. Bento XVI, ou Joseph Ratzinger, é um homem que tem responsabilidades enormes, pois a Igreja tem bilhões de fieis, um líder com responsabilidades maiores que certos presidentes de alguns países.

Ele é um homem com suas virtudes e contradições dentro do mundo religioso. Está em um momento de fragilidade física diante desse cargo que exige tanto. Apesar de ser um intelectual, ele tem muito humor, características que vão humanizando essa figura. Estamos em uma época em que cada um tem sua verdade. As discordâncias se acirram e se tornam, inclusive, violentas. Se tornam perversas, desrespeitosas, doentias, trazendo uma noção de desumanidade em altíssimo grau. As vozes são discordantes de Bento XVI e de Francisco, mas quando se reconhece o lado humano e se tem uma boa vontade, é possível encontrar um caminho em que a humanidade, de fato, se estabeleça. É uma peça que nos leva a um processo de avaliação desse mundo caótico atual.”

Celso Frateschi encarna o cardeal argentino Jorge Bergoglio e volta a trabalhar com temas que permeiam a Igreja Católica, como ocorreu nas peças O Grande Inquisidor (adaptação de um trecho do romance Os Irmãos Karamazov, de Fiódor Dostoiévski) e Processo de Giordano Bruno (texto do italiano Mário Moretti). O ator reforça que Dois Papas é bem construído dramaticamente e abre questões filosóficas que não ficam restritas somente ao mundo religioso. “São visões de mundo completamente diferentes, por mais que ambos sejam da mesma religião. Essa dramaturgia acaba falando de nós nesse exato momento em meio às discussões envolvendo polarização.”

Para construir o seu personagem, Frateschi relembra de sua criação católica que dialoga bem com as diretrizes do futuro Papa Francisco na peça. “Ele é um homem que retomou os rumos da Igreja, não tem nenhum limite em avaliar a si mesmo com transparência, possui uma capacidade de mudança e transformação, características que vão continuar durante o seu papado.”

Ambos os papas são cercados por personagens femininas que fazem parte de suas escolhas na tomada de decisões. Carol Godoy vive a Irmã Sophia, uma jovem freira argentina que teve sua trajetória transformada pelos ensinamentos do cardeal Jorge Bergoglio. Já a Irmã Brigitta é uma editora de livros religiosos, intelectual e amiga mais próxima de Bento XVI, que conhece suas angústias diante das pressões do cargo.

Dois Papas marca um reencontro de Celso Frateschi e Zécarlos Machado nos palcos. A dupla esteve junta em Santa Joana, de Bernard Shaw, direção de José Possi Neto na década de 80. Os dois atuaram juntos na TV em alguns episódios da série Sessão de Terapia, exibida originalmente pela GNT.

A peça teve sua estreia mundial em junho de 2019, no Royal & Derngate Theatre, na Inglaterra, a partir de seu livro homônimo; e também ganhou versão cinematográfica adaptada pelo próprio autor, produzida pela Netflix, com direção do brasileiro Fernando Meirelles. O filme recebeu 3 indicações ao Oscar, 4 indicações ao Globo de Ouro e 5 indicações ao BAFTA, incluindo nas 3 premiações Anthony McCarten na categoria de melhor roteiro.

Ficha Técnica
Idealização: Munir Kanaan e Rafa Steinhauser.
Dramaturgia: Anthony McCarten.
Tradução: Rui Xavier.
Direção: Munir Kanaan.
Diretor assistente: Gustavo Trestini.
Elenco: Celso Frateschi (Cardeal Bergoglio, futuro Papa Francisco); Zécarlos Machado (Papa Bento); Carol Godoy (Irmã Sofia); Eliana Guttman (Irmã Brigitta); Participação em vídeo: Rafa Steinhauser.
Produção: Gengibre Multimídia e Zug Produções.
Direção de Produção: Carol Godoy.
Consultoria administrativa: Dani Angelotti (Cubo Produções)
Iluminação: Beto Bruel.
Assistência e operação de luz: Rodrigo Silbat.
Arquitetura cenográfica: Eric Lenate.
Adereços e produção de objetos: Jorge Luiz Alves.
Contrarregras: Rodrigo Caetano e Rui Xavier.
Trilha sonora original e desenho de surround: Dan Maia.
Instalação técnica de áudio e mixagem da trilha sonora no espaço cênico: L.P. Daniel.
Direção de imagem e videomapping: André Grynwask e Pri Argoud (Um Cafofo).
Figurino: Carol Roz.
Camareira: Liduina Aires.
Estagiária: Tori Moraes.
Fotografia e criação: Ale Catan.
Programação visual e criação: Carlos Nunes.
Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Realização: Gengibre Multimídia e Zug Produções.
Apoio Cultural: La Serenissima, Nieto Senetiner, Cultura Artística e Cannal Midias Digitais.

Serviço
DOIS PAPAS
Cultura Artística: Rua Nestor Pestana, 196 – Consolação, São Paulo – SP, 01301-010
Temporada: de 22 de agosto a 13 de setembro, sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 18h.
Capacidade: 580 lugares.
Não haverá apresentação no último domingo, dia 14.
Preço: De R$ 100 a 180 (inteira) e de R$50 a R$ 90 (Meia)
Link de Compras: https://doispapas.byinti.com/#/event/dois-papas
Duração: 120 minutos.
Classificação: Livre.
Indicação: 14 anos.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui