Um documentário que convida o público a ver com os ouvidos: Escuta Pra Cê Vê é o novo curta-metragem lançado pelo projeto Rede Soa Sirene: Comunicação Popular em Comunidades Vulneráveis à Mineração, e já está disponível gratuitamente no YouTube. Com uma proposta estética inovadora e politicamente potente, o filme é protagonizado por moradores dos territórios de Tejuco, Marinhos e Ribeirão, em Brumadinho (MG), e mergulha nas vivências locais por meio da escuta.
Mais do que documentar, o filme provoca sensações. A trilha sonora é composta por sons reais do cotidiano – passos, risos, conversas, ruídos da rua – que formam uma ambientação imersiva. A ausência de imagens visuais desloca o espectador do lugar comum do audiovisual e convida a experimentar o cinema como gesto de escuta e imaginação.
Com isso, Escuta Pra Cê Vê se destaca como obra sensível, política e inclusiva — acessível a pessoas com deficiência visual e conectada a debates contemporâneos sobre acessibilidade, linguagem e descentralização das narrativas. O curta propõe uma reconfiguração do olhar para o cinema e fortalece a comunicação popular como instrumento de resistência e pertencimento.
Também é possível encontrar as versões com acessibilidade no canal do Coletivo (Canal Coletivo MICA)

Podcast e oficinas: a comunicação como cinema do real
O projeto Rede Soa Sirene também produziu dois episódios de podcast e realizou oficinas de formação sonora com moradores das comunidades. As atividades aconteceram em Tejuco, Marinhos e Ribeirão e envolveram crianças, adolescentes, jovens e adultos em processos de escuta, entrevistas, criação de roteiros e experimentações com som — numa linguagem que aproxima rádio, documentário e performance sonora.
O resultado são obras que ecoam as vozes de quem raramente tem espaço na mídia tradicional, reforçando a potência da escuta como gesto político e artístico.
Os episódios do podcast estão disponíveis gratuitamente no Spotify: https://open.spotify.com/show/
“O Projeto Rede Soa Sirene é fundamental porque fortalece o direito à comunicação em territórios historicamente silenciados, oferecendo ferramentas para que moradores de comunidades vulneráveis à mineração possam contar suas próprias histórias, do seu jeito, com sua voz. Mais do que ensinar técnicas de gravação ou edição, o projeto promove escuta, pertencimento e autonomia, mostrando que comunicar também é uma forma de existir, resistir e transformar realidades.”, comenta Thamira Bastos, coordenadora geral do Projeto.
Como parte do projeto, foi elaborada uma apostila com orientações práticas para a criação e divulgação de podcasts em plataformas digitais. O material foi distribuído em versão impressa durante as oficinas e agora também está disponível online (acesse aqui), ampliando o acesso à metodologia e incentivando novas iniciativas comunitárias.
O curta Escuta Pra Cê Vê e os dois episódios de podcast foram realizados com recursos do Convênio nº 930113/2022, oriundo da Emenda nº 39160013, disponibilizada pela deputada federal Áurea Carolina.
Sobre o Coletivo MICA
Desde 2015, o Coletivo MICA atua com foco na educação social, comunicação popular e valorização de identidades e culturas. Seu principal objetivo é contribuir para a emancipação humana por meio de ações ligadas à arte, à cultura e à comunicação social. Entre suas frentes de atuação, destacam-se o fomento a valores identitários e culturais — incluindo o patrimônio histórico, artístico, material e imaterial — e a consolidação da cidadania, dos direitos humanos e da democracia.
Ao longo desses anos, o MICA tem promovido iniciativas em comunidades periféricas de Minas Gerais, com ênfase na defesa do Direito à Comunicação, um direito humano fundamental historicamente negado a grande parte da população. A proposta do coletivo é abrir espaços de escuta e criação para pessoas que, muitas vezes, têm suas vozes silenciadas por fatores como idade, crença, cor, gênero ou classe social. Ao incentivar a produção de conteúdo a partir das próprias vivências, o MICA reafirma a potência da comunicação popular como ferramenta de expressão, transformação e pertencimento.
Em 2024, o grupo desenvolveu mais uma importante iniciativa: o projeto Rede Soa Sirene: Comunicação Popular em Comunidades Vulneráveis à Mineração, realizado no âmbito do Termo de Fomento nº 930113/2022. Nesta edição, o projeto chegou aos territórios de Tejuco e Marinhos, em Brumadinho (MG), onde foram realizadas duas oficinas de podcast voltadas para crianças, adolescentes, jovens e adultos moradores das comunidades. Os encontros propuseram vivências práticas com experimentações sonoras, entrevistas e gravações feitas pelos próprios participantes, a partir de temas e reflexões construídos coletivamente.