
Imagine um crítico de cinema atuando na periferia do Brasil subdesenvolvido das décadas de 1950/60. Um intelectual que escrevia diariamente sobre o então jovem Kubrick, a Nouvelle Vague, o Neorrealismo Italiano e seus ícones. Alguém em sintonia fina com o zeitgeist latino-americano — referindo-se a Fernando Birri, à Revolução Cubana e à criação do ICAIC —, e que chegou a eleger O Pátio, curta-metragem inaugural de Glauber Rocha, como um “primor do experimentalismo”, obra que, segundo ele, só poderia ter sido concebida pelo baiano, naquele Brasil de então.
Esse personagem singular e originalíssimo foi Linduarte Noronha (1930–2012), diretor do seminal Aruanda (1960) — filme que o próprio Glauber Rocha reconheceria como a obra que trouxe sangue novo ao cinema nacional, instituindo as bases do moderno documentário brasileiro. E é justamente ele que está no foco central do livro que será lançado no próximo dia 25 de julho, às 17h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Na oportunidade, serão exibidos Aruanda (1960) e O Cajueiro Nordestino (1962), ambos dirigidos por Linduarte Noronha, e Kohbac – A Maldição da Câmera Vermelha (2009), de Lúcio Vilar (1960).
LUZ. CINEFILIA …
Intitulado Luz, Cinefilia… Crítica! – Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha, Jornal A União, Anos 1950–1960, o livro tem organização de Lúcio Vilar, jornalista, professor da UFPB e fundador do Fest Aruanda. A publicação reúne 64 textos selecionados entre mais de 900 escritos por Noronha no jornal A União. O lançamento tem o selo da Editora A União, vinculada à Empresa Paraibana de Comunicação (EPC).
O projeto nasceu como pesquisa no Departamento de Mídias Digitais da Universidade Federal da Paraíba, com apoio da EPC e do Iphaep-PB, e desde março percorre um circuito de lançamentos em festivais de cinema, universidades e instituições culturais. A obra resgata críticas e crônicas de sete décadas atrás, agora acompanhadas por releituras assinadas por nomes como Luiz Zanin Oricchio (Estadão), João Batista de Andrade (cineasta), Maria do Rosário Caetano (Revista de Cinema), Marília Franco (ECA-USP), João Batista de Brito (UFPB), Fernando Trevas Falcone (UFPB) e Rodrigo Fonseca (Correio da Manhã-RJ).
RUY GUERRA
Uma lenda viva do cinema nacional e latino-americano, o cineasta Ruy Guerra — diretor de obras como Os Cafajestes, Os Fuzis e Quarup — teve acesso ao projeto editorial ainda em fase embrionária. Curiosamente, ele é também citado por Noronha em uma das crônicas nos anos 1960. “Esse livro não deveria estar apenas nas escolas, mas ser leitura obrigatória da história cultural do Brasil. Deve ser discutido, falado, lembrado. A Cultura brasileira ainda sofre com muitas lacunas, e este trabalho preenche uma delas. Linduarte Noronha tem uma abrangência muito maior do que se conhece dele”, comentou Guerra.
MARCO TÚLIO ALENCAR (Jornalista e Historiador da Arte)
“De posse do livro, fui arrebatado pelo seu conteúdo. Para dar uma medida de quão impactante foi a experiência, ao iniciar a leitura, não parei até chegar perto da página 100. Ao ponderar sobre o material, impressionou-me, sobretudo, a atualidade das reflexões – inicialmente expostas nas páginas do Jornal A União, entre as décadas de 1950 e 1960 –, que vão além do campo cinematográfico, em variadas direções. Acredito, inclusive, que muitas dessas ideias, caso fossem publicadas em veículos da mídia de nossos dias, seriam aceitas como contemporâneas”.
SOBRE O AUTOR-ORGANIZADOR
LÚCIO VILAR
Jornalista, produtor audiovisual, documentarista e docente da Universidade Federal da Paraíba (Mídias Digitais-CCHLA). Tem Mestrado (na área de Rádio e Televisão) e Doutorado na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) pelo Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais, com foco na participação paraibana no contexto do cinema silencioso brasileiro dos anos 1920.
Como documentarista, roteirizou e produziu em curta-metragem: Pastor de Ondas (2003); O menino e a bagaceira (2004); Aruandando (
Em fase de produção, Vilar dirige atualmente seu primeiro longa-metragem intitulado O Homem por Trás do Cinema Novo (sobre o legado de Linduarte Noronha), com previsão de lançamento para o primeiro semestre de 2026.
CINEMATECA BRASILEIRA
A Cinemateca Brasileira, maior acervo de filmes da América do Sul e membro pioneiro da Federação Internacional de Arquivo de Filmes – FIAF, foi inaugurada em 1949 como Filmoteca do Museu de Arte Moderna de São Paulo, tornando-se Cinemateca Brasileira em 1956, sob o comando do seu idealizador, conservador-chefe e diretor Paulo Emílio Sales Gomes. Compõem o cerne da sua missão a preservação das obras audiovisuais brasileiras e a difusão da cultura cinematográfica. Desde 2022, a instituição é gerida pela Sociedade Amigos da Cinemateca, entidade criada em 1962, e que recentemente foi qualificada como Organização Social.
O acervo da Cinemateca Brasileira compreende mais de 40 mil títulos e um vasto acervo documental (textuais, fotográficos e iconográficos) sobre a produção, difusão, exibição, crítica e preservação cinematográfica, além de um patrimônio informacional online dos 120 anos da produção nacional. Alguns recortes de suas coleções, como a Vera Cruz, a Atlântida, obras do período silencioso, além do acervo jornalístico e de telenovelas da TV Tupi de São Paulo, estão disponíveis no Banco de Conteúdos Culturais para acesso público.
LUZ, CINEFILIA…CRÍTICA! – Arqueologia e Memória do Crítico Linduarte Noronha, Jornal A União, Anos 1950 – 1960
Quando: 25 de julho
Horário: 17h (com exibições)
Local: Cinemateca Brasileira
Endereço: Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino, São Paulo-SP)
Sensacional!!!👏👏👏