
Brasileira-americana, Bia Borinn está na nova série da Netflix que vira o jogo. The Gringo Hunters, dos mesmos criadores de Narcos: México, estreia na quarta-feira (9), na Netflix, com uma trama ousada em um momento em que o debate sobre imigração volta a esquentar nos Estados Unidos: aqui são os mexicanos que caçam e deportam americanos ilegais.
No meio dessa virada baseada em fatos reais, a atriz brasileira dá vida a uma personagem intensa e misteriosa, e aproveita para levantar a bandeira sobre imigração, representatividade e os estereótipos latinos nos Estados Unidos.
“Espero que incomode muito! Porque o que está acontecendo nos EUA vai contra a constituição, é antidemocrático. Sempre se criminalizou os latinos. E agora, com americanos ilegais e mexicanos como heróis, talvez a narrativa dominante seja questionada”, dispara Bia.
Radicada nos Estados Unidos há 10 anos, sendo dois em Nova Iorque e oito em Los Angeles, a atriz é formada em Artes Cênicas pela Universidade de São Paulo e tem um currículo extenso. Já atuou em longas, séries, comerciais e também brilha como apresentadora.
Na TV, Bia está cada vez mais presente em produções internacionais. Em The Gringo Hunters, interpreta uma personagem ainda mantida em segredo, mas que ela define como “surpreendente e carregada de simbolismo”. Para o papel, precisou atuar em espanhol, sua terceira língua, e mergulhou numa preparação intensa com dois coaches: Eduardo Milewicz, referência no Brasil, e Milton Justice, vencedor do Oscar e mentor de nomes como Mark Ruffalo e Margo Martindale.
O processo de seleção também exigiu coragem. A personagem pedia cabelos longos e Bia, que tem as madeixas curtinhas, não pensou duas vezes: comprou um aplique e fez a self-tape por conta própria. Após ser chamada para a segunda etapa, fez um teste via Zoom com o diretor Alonso Alvarez e o renomado diretor de elenco Luis Rosales.
“Foi um teste em que eu estava muito preparada, apesar do nervosismo. Tinha essa sensação de ‘estou apresentando minha versão da personagem’, não tentando agradar ninguém. E isso nem sempre é fácil para nós, atores.”
A série também tem um toque brasileiro por trás das câmeras. A direção de fotografia é assinada por Adrian Teijido, de Marighella e Ainda Estou Aqui, este último vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024.
“Tudo o que uma atriz quer é ser amiga do diretor de fotografia!”, brinca Borinn, que acabou se aproximando do único brasileiro além dela no set. “O Adrian é espetacular. Mesmo com tanta estrada, ele ainda experimenta. Os planos dele na série estão lindos de tirar o fôlego.”
Na série, Bia contracena com atores de diferentes nacionalidades e destaca a experiência como enriquecedora. “Com quem mais contracenei foi Regina Nava, uma atriz mexicana em ascensão. Tivemos cenas intensas. Pude conversar com eles, entender como funciona o mercado audiovisual no México, e existe muito investimento por lá.”
Sobre a experiência no país, ela completa: “Sou de São Paulo, e me senti completamente em casa no México. A semelhança entre os nossos povos é imensa, e a conexão cultural foi instantânea.”
Em paralelo à série da Netflix, a atriz estará ainda em “All’s Fair”, nova produção da Hulu dirigida por Ryan Murphy, onde contracena com ninguem menos que Naomi Watts e Kim Kardashian. A estreia está prevista para novembro. E vem mais por aí: Bia está produzindo um musical brasileiro em Los Angeles.
Além da atuação, Bia também é premiada por seu trabalho educativo e cultural. Recebeu um reconhecimento da UCLA pelo projeto “Brazilian Play and Learn”, que promove o português como língua de herança entre famílias brasileiras nos EUA. Também estagiou com o dramaturgo britânico Alan Ayckbourn e teve aulas com Harold Guskin, preparador de nomes como Bon Jovi, Glenn Close e James Gandolfini.
Borinn também tem forte ligação com o Los Angeles Brazilian Film Festival (LABRFF), onde atuou como apresentadora oficial nas últimas três edições. Este ano, será o rosto do pôster oficial do festival, que está completando 18 anos de existência.