
O cinema vive um período nebuloso. As produções atuais estão cada vez mais próximas de uma planilha de Excel, em que é vital ter um ator que engaje nas redes sociais, um trailer capaz de atrair o máximo de público e um diretor disposto a seguir as diretrizes do estúdio, colocando a arte em segundo plano. Para o ator e cineasta Bernardo Barreto, que transita entre o Brasil, Nova York e Los Angeles, o desafio do audiovisual hoje é resgatar o sentimento e o risco criativo em uma indústria cada vez mais movida por “marcar caixinhas”.
“Os estúdios querem histórias que preencham requisitos, não mentes. Se a ideia não cabe dentro da fórmula, ela simplesmente não existe”, provoca Bernardo. Segundo ele, o cinema atual se organiza entre três forças: o dos streamers, movido por volume e dados nos moldes data-driven; o de estúdio, que ainda preserva o espetáculo e a experiência; e o independente, que tenta sobreviver com liberdade, mas enfrenta a escassez de financiamento e atenção.
Mesmo com a popularização das plataformas, Bernardo vê os festivais de cinema como um dos pouquíssimos espaços de validação artística que seguem vivos. “Eles ainda reconhecem a autoria, mas não garantem sustentabilidade. O desafio do cinema independente é continuar existindo com integridade, quando tudo ao redor pede velocidade e fórmula”, reflete. Pensando sobre o assunto, ele destaca ainda: “O filme ganha aqueles 15 minutos de fama no festival, mas depois isso acaba sumindo — é um ciclo curto de atenção.”

Ainda assim, o sucesso recente do longa-metragem The Ballad of a Hustler (Invisíveis, no Brasil), dirigido por Heitor Dhalia, vem conquistando reconhecimento internacional, prova de que ainda há interesse por histórias que falam sobre o ser humano. O filme foi vencedor de Melhor Filme no SOHO International Film Festival, em Nova York; Melhor Longa de Drama no 32º Festival Internacional do Arizona; Melhor Longa-Metragem no Indie Street Film Festival 2026, em Red Bank (Nova Jersey); e levou dois prêmios — Melhor Ator e Melhor Filme — no Garden State Film Festival, em Asbury Park e Cranford (Nova Jersey). As vitórias consolidam Bernardo, que roteirizou e protagonizou o filme, como um dos nomes brasileiros de maior projeção no circuito independente.
Vivendo entre o mercado norte-americano e o brasileiro, ele observa diferenças fundamentais entre os dois ecossistemas. “Nos Estados Unidos, é uma indústria do entretenimento — as ideias precisam gerar lucro, e diversas pessoas estão ali para tentar arrecadar algo. No Brasil, ainda temos um mercado cultural, que funciona com trocas, incentivos e espaço para um desenvolvimento mais orgânico, apesar da burocracia e dos desafios. Ainda há margem para a emoção”, afirma.
Para o cineasta, o futuro do audiovisual brasileiro pode estar ligado a uma revolução silenciosa, que renove os nomes e as estruturas. “Precisamos criar oportunidades reais para novos talentos; assistentes de direção, produtores, atores e atrizes que não conseguem furar o bloqueio. O sistema se retroalimenta dos mesmos nomes, e isso limita a criatividade. É hora de abrir espaço para outras vozes”, defende.
Com novos projetos em andamento, entre eles o terror psicológico Epitaph e o suspense A Isca, ambientado no Rio de Janeiro; Bernardo segue firmando sua posição como um artista inquieto e multifacetado. “O que me move ainda é olhar nos olhos. O resto, o algoritmo, o glamour, o ruído, é distração”, conclui.




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