
O #LINK – Encontro de Indústria Ibero-Americano de Cinema Documental encerrou, neste sábado (11), realizada em parceria inédita com o Festival do Rio e o RioMarket, sua primeira edição no Brasil, após 13 edições em Buenos Aires. Durante seis dias, o evento reuniu realizadores, tutores, programadores e players internacionais em uma intensa programação de laboratórios, pitchings, mesas, encontros individuais e Masterclasses no Centro Cultural Justiça Federal e no Armazém da Utopia. A edição premiou 31 projetos, que foram direcionados a oportunidades de circulação internacional, somando mais de US$ 100 mil em incentivos técnicos e artísticos.
Com 40 projetos de filmes e séries de não-ficção de diferentes países da América Latina selecionados para as mentorias com tutores nacionais e internacionais, o #LINK confirmou o papel do Brasil como novo eixo estratégico para a circulação do cinema documental ibero-americano. A apresentação oficial do evento, realizada no Armazém da Utopia na sexta (10), reforçou o caráter colaborativo da iniciativa, marcada por intercâmbio criativo, coprodução e fortalecimento das redes regionais.
Entre os apoios, destacam-se o prêmio de pós-produção de som da Yagan Films (Chile), com mixagem estéreo e 5.1 avaliado em US$ 8 mil; o incentivo da By Lace (Chile) de US$ 5 mil para um projeto em desenvolvimento; o pacote completo de pós-produção da UNTREF Media (Argentina), incluindo conformação, correção de cor e mixagem 5.1, avaliado em US$ 40 mil; a correção de cor da Lacau (República Dominicana) para longas de até 120 minutos, no valor de US$ 30 mil; a conformação em resolução 4K da O2 (Brasil), avaliada em US$ 20 mil; e a consultoria internacional da Compañía de Cine (Argentina), especializada em estratégias de festivais e vendas, avaliada em US$ 4 mil.
Além disso, todos os projetos serão encaminhados diretamente a festivais e laboratórios parceiros, com seleção garantida em eventos de referência como o Festival de Málaga (MAFIZ), SANFIC Indústria, FICCI Cartagena, Ventana Sur (Doc e Series), SAPCINE Cali, FAM/ECM Florianópolis, BioBio Lab (Chile), FRAPA Porto Alegre, Miradas Medellín e Pulsar Rosário, ampliando suas possibilidades de exibição, coprodução e difusão na Ibero-América.
Para Walter Tiepelmann, diretor do #LINK, a primeira edição brasileira consolida um novo ciclo de expansão: “Trazer o encontro para o Brasil, dentro do Festival do Rio e do RioMarket, é uma forma de fortalecer ainda mais os vínculos entre países e criar um espaço de diálogo fundamental para o futuro do audiovisual ibero-americano”, afirmou o diretor.
Celina Torrealba, da Donna Features, responsável pela direção de produção do evento no Brasil ao lado de Sergio Carpi, celebrou a força do setor: “Foi emocionante ver a energia dos encontros, a qualidade dos projetos e o interesse dos tutores internacionais. O #LINK mostrou que o Brasil tem talentos, ideias e histórias potentes — e que o diálogo com a Ibero-América é natural e necessário”.
Festivais parceiros reforçam redes ibero-americanas
Na sexta-feira (10), o #LINK realizou o “Encontro de Festivais”, mesa mediada por Ilda Santiago que reuniu alguns dos principais nomes do circuito internacional de cinema documental: Mario Durrieu (diretor do FIDBA, Argentina), Raúl Niño Zambrano (diretor criativo do Sheffield DocFest, Reino Unido), Gabriela Sandoval (diretora do SANFIC Indústria, Chile), Mónica Moya (diretora de indústria do FICCI, Cartagena, Colômbia), Arturo Pérez Navarro (diretor de indústria do IAFFM Miami e do FICG Guadalajara, México/EUA) e Javier García Puerto (diretor do Festival REC, Espanha, e programador do Tallinn Black Nights, Estônia).
Esses festivais, junto com outras iniciativas parceiras do #LINK — Ventana Sur (Doc e Series), Brasil CineMundi, FRAPA – Festival de Roteiro de Porto Alegre, FICG Guadalajara, SANFIC Indústria, MAFIZ – Festival de Málaga, FICCI Cartagena, SAPCINE – Salón de Productores y Proyectos Cinematográficos de Cali, FAM/ECM – Encontro de Cinema do Mercosul (Florianópolis), BioBio Lab (Chile), Miradas Medellín (Colômbia), Pulsar (Rosário, Argentina), UNTREF Media (Argentina), Yagan Films (Chile), Compañía de Cine (Argentina) e Lacau (República Dominicana) — formam uma ampla rede que impulsiona a circulação de obras, o intercâmbio de talentos e o fortalecimento do cinema documental em toda a Ibero-América.
Para Mario Durrieu, cofundador do FIDBA e um dos diretores do #LINK, a chegada do evento ao Brasil representa mais do que uma expansão geográfica: “A expansão de #LINK a Brasil nasce de uma vontade natural de fortalecer os laços entre nossas cinematografias. O país vive um momento de efervescência e renovação, e queremos acompanhar esse crescimento oferecendo um espaço de encontro, formação e visibilidade internacional para as novas vozes do cinema brasileiro”, afirmou.
Vozes dos realizadores: memória, identidade e resistência
Entre os projetos selecionados, destacaram-se algumas produções brasileiras como “Um Corpo para Waldirene”, de Luíza Zaidan e Rafael Farina, e a série “Temporada de Caça”, de Lucas Weglinski. Os realizadores ressaltaram a importância de participar de um espaço de troca que prioriza a escuta e o desenvolvimento artístico.
“Nosso filme é um gesto de restituição e de futuro”, afirmou Rafael Farina, diretor de Um Corpo para Waldirene, documentário que resgata a história da primeira mulher trans a realizar uma cirurgia de afirmação de gênero na América Latina.
Já Lucas Weglinski, diretor de “Temporada de Caça”, ressaltou o impacto do laboratório para o amadurecimento do projeto: “Antes de entrar na roda-viva da compra e venda, temos a chance de parar e pensar: qual é a fundação da série? É um presente poder desenvolver a obra em um ambiente de reflexão e liberdade criativa”, disse.
Ao todo, 40 projetos foram selecionados para participar do #LINK 2025, representando a diversidade e a força criativa do cinema documental ibero-americano. No DOC:LAB, dedicado a longas em desenvolvimento, participaram “Mirante: mande notícias do mundo de lá” (Brasil), “Um Corpo para Waldirene” (Brasil), “El castigo real” (Argentina), “Razón de ver” (Peru), “Ao redor do #sol” (Brasil), “Un lugar donde quedarse” (Equador), “Astromelias” (Colômbia), “Canales australes” (Chile), “Febre tropical” (Brasil), “Antes de que mueras, sabrás de tus ausencias” (México), “El camino a la nada” (Colômbia), “Para além dos tribunais” (Brasil) e “Mis abuelxs surreales” (Argentina).
No LINKAD@S, voltado a novos talentos e ideias em formação, estiveram “Un jardín de dos tierras” (Chile), “Lo que buscaba en Macedonia” (Argentina), “Chemamüll” (Argentina), “El misterio de la campana” (Chile), “Puede ser el último invierno” (Chile), “El silencio” (Colômbia), “La última palabra” (Peru), “Mampostería” (Colômbia), “Latifúndios verticais” (Brasil) e “Aonde foi que eu errei?” (Brasil).
No WIP:LAB, dedicado a filmes em finalização, foram selecionados “Movimientos a distancia” (Colômbia), “El fin de los tiempos” (Colômbia), “Como tú me ves” (México), “Las Termas” (Argentina), “Dragões da Independência” (Brasil), “Cocaína negra” (Chile) e “La mujer, el diablo y el fuego” (México). Já o SÉRIES:LAB, voltado a séries documentais, contou com “Cuando juega la fe” (Uruguai), “Following the devil” (Argentina), “Diario sin tiempo” (Chile), “Rios de encantarias” (Brasil) e “Una historia de dos pueblos” (Argentina).
Tutores internacionais refletiram sobre o futuro do documentário
Os laboratórios do #LINK contaram com mais de 20 mentores de diversos países, entre programadores, produtores e executivos de plataformas. Entre os destaques, estiveram Paula Astorga (FICUNAM/México) e Esteban Vidal (HBO Max Latinoamérica).
Astorga propôs uma discussão profunda sobre o papel do público no cinema contemporâneo: “O cinema não é um produto: é um espaço de encontro, de conversa e de pertencimento. As pessoas são muito mais inteligentes do que as tratamos — o espectador não é um número, é alguém que busca sentido, reconhecimento e comunidade”.
Vidal, responsável por definir a linha de documentários da HBO Max para a América Latina, destacou a relevância das novas vozes presentes no evento: “Os participantes chegam muito bem preparados, os projetos são fortes e as dinâmicas têm funcionado muito bem. Está sendo um prazer trabalhar com essa nova geração de realizadores”, disse.
O #LINK 2025 contou com um time diverso de mentores nacionais e internacionais, reunindo nomes de referência no mercado audiovisual ibero-americano: Xavi García Puerto (POFF Tallinn Black Nights, Festival REC/ Espanha), Raúl Niño Zambrano (Sheffield DocFest/ Reino Unido), Gabriela Sandoval (SANFIC Indústria/Chile), Arturo Pérez Navarro (FICG Guadalajara, IAFFM Miami/México-EUA), Paulina Portela (Compañía de Cine/ Argentina), Esteban Vidal (Warner Bros. Discovery – HBO Max Latam/ México), Alejandra Marano (Ventana Sur Series e Festival Construir Cine/ Argentina), Renato Vallone (Montador/ Brasil), Paula Astorga (FICUNAM/México), Antonio Gonçalves Jr. (Olhar de Cinema/Brasil), Mónica Moya (FICCI Cartagena/ Colômbia), Carla Paredes (UNTREF Media/Argentina), María Paz Everhard (Yagan Films/ Chile), Emerson Dindo (DiALAB/Brasil), Lidia D’Amato (More Than Films, Locarno Academy/ Brasil), Sergio Carpi (Donna Features/Brasil), Tuinho Schwartz (Focus Entretenimento/PUC-Rio/Brasil)
Um novo marco para o audiovisual latino-americano
Encerrando sua primeira edição brasileira, o #LINK confirma-se como um espaço de convergência entre criação, mercado e pensamento crítico. O evento reafirma a potência da não-ficção ibero-americana e consolida o Brasil como elo fundamental dessa rede. “Foi um evento de encontros reais, de pontes criadas. O #LINK deixa no Brasil uma semente que certamente seguirá crescendo nas próximas edições”, resume Celina Torrealba.