
Selecionado para o #LINK – um dos mais importantes encontros de indústria e negócios do cinema documental ibero-americano, no Rio de Janeiro, até sábado (11), em parceria com o Festival do Rio e o RioMarket – o documentário Um Corpo para Waldirene, dirigido por Rafael Farina e Luíza Zaidan, com produção de Ana Luíza Freitas, Natália Souza, Vitã e Pedro Tinen, traz à tona uma história fundamental e pouco conhecida da trajetória da comunidade LGBTQIAPN+ no Brasil. O filme acompanha Waldirene Nogueira, hoje com 80 anos, reconhecida como a primeira mulher trans a realizar uma cirurgia de afirmação de gênero na América Latina, em 1971, em São Paulo, durante a ditadura militar.
O projeto nasce de uma ligação pessoal e histórica: Rafael Farina é sobrinho de Roberto Farina, o cirurgião plástico que realizou a operação pioneira em Waldirene. Processado e condenado à prisão por “mutilação”, o médico tornou-se figura central no debate sobre gênero, medicina e direitos humanos no país. “Eu cresci ouvindo essa história e quis entender o que levou um médico da elite paulistana a enfrentar um procedimento que sequer existia na América Latina”, conta o diretor Rafael.
Durante dois anos de aproximação, a equipe construiu uma relação de confiança com Waldirene, que vive reclusa em Lins, interior de São Paulo, na mesma casa onde nasceu. O filme parte de seu cotidiano atual — e de sua busca, ainda hoje, por um corpo que corresponda à sua identidade — para reconstruir não apenas um percurso individual, mas também a memória coletiva de uma época marcada por repressão, censura e invisibilidade trans.
A narrativa se baseia em entrevistas, materiais de arquivo raros, cartas trocadas entre médicos e universidades estrangeiras, e em novas imagens registradas com delicadeza e respeito à protagonista. “Quando percebemos que Waldirene estava viva e que sua história permanecia anônima, entendemos que o filme precisava nascer dela — de sua voz, de suas escolhas, do modo como quer se representar na tela”, afirma Rafael.
Mais do que resgatar um episódio histórico, Um Corpo para Waldirene propõe uma reflexão sobre memória, corpo e resistência. O filme revisita um marco da medicina e da luta trans sob uma perspectiva afetiva e política, recuperando o lugar de uma mulher que abriu caminhos, mas foi apagada da história. “Não existe luta sem memória. Nosso filme é um gesto de restituição e de futuro”, resume o diretor.
Selecionado pelo LINK – Encontro Internacional de Coprodução Audiovisual, para receber mentoria, além de possíveis desdobramentos para a sua conclusão e lançamento no DOC:LAB, laboratório voltado a longas-metragens em desenvolvimento, o projeto busca apoio internacional para concluir suas filmagens e ampliar a circulação da obra em festivais e plataformas.
SOBRE O #LINK: Pela primeira vez no Brasil, o #LINK — um dos mais importantes encontros de indústria e negócios do cinema documental ibero-americano — acontece no Rio de Janeiro, de 6 a 11 de outubro de 2025, em parceria com o Festival do Rio e o RioMarket. Com o lema “Vamos a falar portuñol?”, o evento busca aproximar o Brasil da Ibero-América, promovendo coproduções, mentorias e conexões internacionais. Serão 40 projetos de filmes e séries de não-ficção participando de laboratórios de desenvolvimento e finalização — o DOC:LAB, WIP:LAB, SÉRIES:LAB e LINKEAD@S — com pitchings, consultorias, masterclasses e premiações que impulsionam a circulação global das obras.