
No dia 25 de julho, celebra-se o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha — data que também é, no Brasil, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, instituído por uma Lei em 2014, que homenageia Teresa, uma liderança quilombola, símbolo de resistência contra a escravização e de luta por liberdade. Mais do que uma celebração, a data é um convite à reflexão e ao fortalecimento de histórias e vozes de mulheres negras, latinas e caribenhas.
A importância desse marco ganha ainda mais força diante dos números. No Brasil, a população negra representa 54% da população total, segundo o IBGE. Na América Latina e no Caribe, cerca de 200 milhões de pessoas se identificam como afrodescendentes, de acordo com a Associação de Mujeres Afro. Por isso, investir em educação antirracista desde a infância não é um gesto simbólico — é uma necessidade. E a leitura tem um papel fundamental nesse processo.
Inserir livros diversos, escritos por mulheres negras, latinas e caribenhas no cotidiano das crianças é uma estratégia potente para formar cidadãos mais conscientes, empáticos e antirracistas. Para celebrar a potência dessas mulheres, a ONG Vaga Lume — que atua há mais de 20 anos promovendo o acesso à leitura em dezenas de comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas da Amazônia Legal — preparou uma curadoria especial de títulos de autoras negras da América Latina e do Caribe, com propostas que vão da literatura para bebês à poesia, passando por histórias juvenis e bem-humoradas.
“A leitura é uma das primeiras experiências de contato com o mundo fora de casa, e quando esse contato traz múltiplas vozes, ele contribui para uma visão mais ampla, justa e plural. Por isso, é fundamental apresentar às crianças histórias que não apenas tragam a representatividade feminina, mas que também coloquem essas mulheres em múltiplos papéis, com diferentes vozes, cores e ritmos. Nesta seleção, temos autoras da Argentina, do Chile, do Brasil, do Peru e do Haiti, por exemplo, e trazer essas narrativas diversas conecta nossos pequenos leitores a um universo muito mais amplo de possibilidades e conhecimentos”, ressalta Bianca de Riccio, Gerente de Relações Institucionais da Vaga Lume.
A seguir, confira uma seleção plural e rica para formar leitores com repertórios diversos desde a infância. “Com histórias que falam de afeto, resistência, ancestralidade e futuro, que tal, neste Dia da Mulher Negra e Caribenha, mergulhar nessas leituras?”, convida.
Primeiras leituras:
Crec (Ed. Pingo de Luz), escrito e ilustrado por Nora Hilb em coautoria com Marcela Hilb, é uma obra visualmente instigante que acompanha os sons e movimentos do crescimento — ideal para os primeiros contatos com a linguagem e o corpo. Um conto divertido e afetuoso sobre maternagem e criação de vínculo entre mãe e bebê.
Quem foi!? (Ed. Brinque-Book), escrito por Ana Palmero Cáceres e ilustrado por Alejandra Acosta. Quem foi que quebrou o vidro do carro? Quem pôs cereal no macarrão? Quem desenhou na parede? Com humor simples, inteligente e ilustrações muito divertidas, o livro mostra o cotidiano de uma família virado de ponta-cabeça com as travessuras de um menino que terá de aprender a lidar com as consequências de seus atos.
Não apronte, mastodonte!(Ed. Jujuba), escrito por Micaela Chirif e ilustrado por Issa Watanabe. Um divertido poema narrativo sobre um mastodonte que causa confusão por onde passa. Numa mudança de papéis, em que o cuidador é uma criança que vivencia um dia de rotina do seu mastodonte, essa história é cheia de afetos e humor. Uma ótima opção para fazer uma mediação de leitura.
Primeiras descobertas:
De cabeça feita (Ed. Quelônio), escrito por Neide Almeida e ilustrado por Beatriz Lira. A menina Dandara descobre que pentear os cabelos pode ser um ritual que envolve cuidado, história e inspiração. O livro é uma celebração dos cabelos crespos, cacheados e da identidade negra, com linguagem poética e ilustrações vibrantes.
Elena também (Ed. Gato Leitor), escrito e ilustrado por Yael Frankel. Conta a história de Elena, uma menina que desafia expectativas e busca seu lugar no mundo, tocando em temas de empoderamento e liberdade. Mostra que, mesmo estranhando tudo aquilo que difere de nós, basta chegar perto para dar de cara com o avesso das coisas e das pessoas. Às vezes, as descobertas podem ser surpreendentes.
O quintal das irmãs (Ed. Pequena Zahar), escrito por Waldete Tristão e ilustrado por Rodrigo Andrade, celebra a alegria e a imaginação das crianças em um quintal. Ambientado em um espaço íntimo e cheio de memórias, o livro fala de vínculos familiares, segredos e o amadurecimento de duas irmãs negras que, com sua inocência e criatividade, exploram esse espaço, criando memórias e afetos que se eternizam.
Onde está Tomás (Ed. Jujuba), escrito por Micaela Chirif e ilustrado por Leire Salaberria. A mamãe está sempre procurando pelo menino, que, entre uma cena e outra, viaja no seu mundo da imaginação. Com uma narrativa sensível sobre um menino autista e sua relação com os espaços e a imaginação, fala sobre diversidade e empatia.
Uma coisa ou outra (Ed. Boitatá), escrito por Angeles Quinteros e ilustrado por Flávia Bonfim. Qual o significado das palavras? Uma coisa pode mudar de definição a depender do contexto? Misturando humor e filosofia, a obra apresenta dilemas cotidianos com charme e inteligência, dialogando com a curiosidade infantil. As ilustrações são um convite para descobrir o que “uma coisa ou outra” quer dizer.
Jovens leitores:
O Plano (Ed. Camaleão), escrito por Ethel Batista e ilustrado por Eva Mastrogiulio. Inspirado na história dos três porquinhos, três porquinhas decidiram se aventurar por novos caminhos e não hesitaram em traçar um plano muito original para se protegerem do lobo. Mas o lobo também tem um plano. Uma história de aventura e afeto entre amigos, com elementos de mistério e cumplicidade — perfeita para leitores em transição.
O Rouxinol da Mamãe: Uma História de Imigração e Separação (Ed. Alegrio), escrito por Edwidge Danticat e ilustrado por Leslie Staub, é um relato tocante sobre a separação entre mãe e filhos no contexto da migração forçada, inspirado em histórias de famílias haitianas. Com comoventes ilustrações, essa delicada narrativa mostra o lado humano da imigração – e mostra como toda criança tem o poder de fazer a diferença.
O espaço entre as folhas da relva (Ed. Ozé), escrito por María José Ferrada e ilustrado por Andrés López, é um mergulho poético em temas como ancestralidade, feminilidade e território. A história gira em torno de um menino que se aventura no mundo da natureza, encontrando diferentes tipos de relva e explorando o espaço entre as folhas. Com linguagem rica e sensível, incentiva a curiosidade e o apreço pela natureza para os jovens leitores.
Sobre a Vaga Lume
Criada em 2001, a Vaga Lume está presente em 23 municípios da Amazônia Legal com 97 bibliotecas comunitárias em funcionamento. Neste ano, serão constituídas mais cinco bibliotecas, sendo três em Uarini (AM) e duas em Barreirinhas (MA). Desde de sua fundação, já doou 195 mil livros e formou mais de 6 mil mediadores de leitura, voluntários que leem para as crianças, trabalho esse que já impactou a vida de 111 mil crianças e jovens. O seu propósito é empoderar crianças e jovens de comunidades rurais da Amazônia por meio da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias, promovendo intercâmbios culturais com a leitura, a escrita e a oralidade para ajudar a formar pessoas mais engajadas na transformação de suas realidades.
Em 2024, a Associação Vaga Lume recebeu, pela terceira vez, o Selo de Direitos Humanos e Diversidade da Prefeitura de São Paulo. Em 2023, foi eleita pela terceira vez, sendo duas consecutivas, como a Melhor ONG de Educação do Brasil pelo Prêmio Melhores ONGs do Instituto Doar. No mesmo ano foi contemplada pelo novo prêmio United Earth Amazônia, na categoria ESG, da sigla em inglês Environmental, Social, and Corporate Governance (Ambiental, Social e Governança) e, também, foi uma das organizações selecionadas em todo o mundo para receber uma doação da filantropa MacKenzie Scott. Em 2022 foi vencedora do Prêmio Jabuti na categoria Fomento à Leitura. Conheça o mini documentário Vaga Lume no YouTube e acesse o site da associação.